Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina.

[conto] Irmãos - Igreja

15 maio 2010

leia o início

Capítulo 3

Igreja

3.1 Roberto

    Acredito que para continuar narrando essa estória eu deva voltar um pouco no tempo para falar sobre algumas coisas que aconteceram antes que eu fosse para casa dormir impotente após o mais recente homicídio cometido por meu irmão. Não digo que ficar voltando no tempo, perdendo a linearidade da estória, seja a coisa mais conveniente a se fazer, mas é conveniente ir para um lugar menos corrupto, talvez o único na ciade. Uma igreja. Sim uma igreja. Depois de tanto tempo afastado eu fui a uma igreja.

    Cheguei por volta das onze da noite, não creio que o horário seja importante, mas às vezes é bom olhar para o relógio. Eu estava encharcado e a igreja estava fechada, não que isso fosse problema, já que existia uma porta lateral e o padre normalmente a deixava aberta para o caso de chegar alguém por essas horas. Me dirigi a essa porta e entrei silenciosamente, caminhei calmamente até o primeiro banco enquanto deixava para trás um rastro de água no chão, acho que eu deveria limpar aquilo antes de sair, mas certamente não o faria agora. Enquanto caminhava tudo o que eu podia ouvir eram os meus passos, quando me sentei tudo o que escutei foi o silêncio reverberar em meus ouvidos.

    Ali sentado na casa do Senhor, sem ninguém ao redor para atrapalhar, comecei a pensar, tudo o que queria eram respostas e esperava que Deus as desse para mim. Na verdade não pretendia sair de lá antes disso.

    Por que isso estava acontecendo pai? Teria o Senhor colocado tamanho peso sobre os ombros de meu irmão? Se era realmente isso por que suas palavras soavam como as de um louco para mim? Por que seu olhar me dizia que algo estava errado? Onde EU teria errado? Como pude ser tão cego a ponto de não perceber o que acontecia com ele? Estive sempre tão ocupado com meus próprios problemas que não pude perceber os dele, não dei a devida atenção aos sinais. Minha cabeça rodava com todas essas dúvidas e nenhuma resposta parecia estar a caminho. Onde estaria Deus agora que não me respondia?

    Não sei se fui menos silêncioso do que pensei que havia sido, não sei se estava pensando alto demais ou mesmo se era essa a resposta de Deus para minhas dúvidas. Tudo o que sei é que nesse instante uma mão tocou meu ombro e eu levantei a cabeça e pude ver o padre me observando com uma expressão tranquila:

    - Padre Ian, eu acordei o senhor?

    - Não meu filho eu já estava acordado esperando seu irmão. Ouvi a porta abrir e pensei que fosse ele.

    - Meu irmão padre... o senhor já sabia?

    - Sabia sim filho, mas não pude fazer nada. Ele me contou em confissão.

    Percebendo que a conversa seria mais longa do que imaginara a princípio o padre sentou-se ao meu lado para que pudesse ficar mais perto de mim e disse:

    - Seu irmão era um grande garoto, eu acreditava que ele poderia ser diferente e de certa forma foi mesmo, não é?

    - Sim padre ele é diferente, mas eu esperava que ele pudesse ser mais igual a mim.

    - Nós somos diferentes uns dos outros, alguns mais do que outros. Seu irmão ainda está no caminho de Deus e enquanto ele trilhar esse caminho ainda haverá esperança.

    - Não padre, você não olhou nos olhos dele enquanto ele falava de sua missão divina, não havia razão em suas palavras.

    - Mas havia fé rapaz. Todas as vezes que ele veio falar comigo após mais um crime eu olhava em seus olhos e não via arrependimento neles e isso me assustava, mas ainda não desisti de seu irmão.

    - Mas eu já padre. Há sangue no caminho dele e não posso fazer nada para ajudá-lo no momento.

    Me levantei e comecei a me dirigir para fora da igreja. Pinguei por todo o caminho até que enquanto me preparava para voltar para a chuva ouço a voz de Ian:

    - Roberto! Enquanto seu irmão não perder a fé dele. - e nesse ponto ele fez uma pausa - Não perca a sua.

    - Obrigado Ian. Obrigado.

    Assim que entrei no carro tive a notícia do assassinato no cassino. Seria esse o motivo de Ian estar esperando Felipe? Não importava mais. Mesmo com esses novo pensamentos ruins as palavras de Ian tiveram efeito em mim. Ainda havia esperança para meu irmão, afinal ele o conhecia melhor do que eu. Nesse momento achei que seria capaz de dormir um pouco. Com esse pensamento fui para casa e com esse pensamento dormi.

3.2 Felipe

    Alguma horas após eu minha saída da igreja Ian recebeu outro convidado, mas dessa vez realmente era quem ele esperava. Felipe. Ele entrou sozinho pela porta lateral da igreja, andando lentamente e fitando o chão. O padre não conseguira dormir após a conversa que teve comigo e ficou sentando no mesmo banco em que o deixei, orando para que Deus iluminasse nossos caminhos. Encarou o padre com seriedade e falou:

    - Padre perdoe-me pois eu pequei.

    - Você deve primeiro arrepender-se antes de pedir meu perdão Felipe.

    - Não posso dizer que me arrependo.

    - Não posso dizer que te perdoo. Vamos orar filho, Deus nos perdoará por nossos erros.

    Se ajoelharam e rezaram durante algum tempo. O padre pensava em como poderia ajudar meu irmão. Meu irmão pensava se conseguiria se manter inteiro até o fim dessa caminhada. Não mentira para o padre, realmente não se arrependia do assassinato, mas talvez estivesse começando a se arrepender das palavras que disse antes de executar Tony. Jã não tinha certeza se continuava a ser o mesmo. Teria ele tido tamanha frieza com todos os que matara antes? Já não sabia responder. Pela primeira vez estava com medo.
    - Padre. Acho que estou me tornando um assassino.

    - Você já é um assassino filho. Mesmo que esteja fazendo algo de bom por todos, está usando meios errados, meios não aceitos por Deus.

    As palavras do padre aparentemente fizeram mais mal do que bem, pois as palavras seguintes de Felipe foram as seguintes:

    - Não padre Ian, não posso parar agora. Preciso seguir em frente com minha missão. Não importa aonde esse caminho me leve ou o que aconteça comigo. Eu estou disposto a aguentar as consequências.

    As palavras fugiram da mente e da boca de Iam e foram se esconder em algum lugar que ele não as encontrou, pois o que se seguiu a declaração de Felipe foi o silêncio. Até que algum tempo depois o silêncio foi quebrado. Meu irmão se levantou e caminhou para ir embora, mas antes disso falou:

    - Padre tenho que ir agora, mas estarei de volta em breve. Conheci uma garota e gostaria de apresentá-la ao senhor.

    A esperança se reacendeu no coração de Ian.

    - Nossa que bom Felipe. Você nunca tem tempo para garotas. Qual o nome dessa santa para que eu possa acender uma vela para ela?

    - Anna.

    E já caminhando em direção à saída:

    - Até mais padre e obrigado por tudo.

    - Até mais filho.

    Ian estava mais feliz com a notícia, embora um pouco receoso, nunca sabia exatamente o que se passava pela cabeça daquele rapaz. Será que ele percebia o perigo em que ele estava colocando essa garota? Ian se perguntava se deveria alertá-lo sobre isso, mas ao mesmo tempo imaginava que Anna poderia ser a luz que iluminaria o caminho de Felipe para fora do buraco em que ele se enfiara. A esperança brilhava novamente no coração do padre, mas lá fora a chuva insistia em cair.

0 comentários:

Postar um comentário