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[conto] Irmãos - Igreja (2)

04 junho 2010

perdeu o início? leia aqui.

Capítulo 4 - Igreja (2)

Um tempo depois do fim dessa estória eu encontrei com Johnny, o conselheiro de Don Vito. Conversamos bastante, não em um clima muito amistoso admito, mas ainda assim conversamos. A narrativa dele foi mais ou menos assim:


4.1 Consigliere

Cresci em um bairro pobre da cidade. Minha vida não foi nada fácil, minha mãe me criou sozinha. Meu pai foi morto em uma troca de tiros com a polícia quando eu era bem novo. Tive que aprender a me virar desde cedo ou seria devorado pelo sistema. Não podia deixar isso acontecer, não podia olhar para minha mãe e dizer que havia falhado, não aguentaria sustentar o olhar de tristeza dela.

No meu bairro se você quisesse ser alguém só havia um jeito. A Máfia e mesmo ela não era garantia de sucesso, afinal eu poderia morrer um peão qualquer, como meu pai. Me juntei ao grupo de Don Pepe e logo fiquei amigo do filho do chefe, o então adolescente Vito, mas nós dois sabíamos que seu pai um dia lhe passaria o cargo. As amizades são muito importantes em qualquer organização. Na máfia não é diferente, basta ser amigo das pessoas certas e quando ela subir você consegue subir junto se for esperto. Uma vez alguém me disse que puxar o saco do chefe é o corrimão para o sucesso. Não sei se isso é uma verdade para todos, mas certamente foi verdade para mim.

Foi como na bolsa de valores as ações do velho Pepe caíram e as do seu filho Vito foram às alturas, junto com as minhas claro. Ele nunca se iludiu a ponto de achar que tinha minha amizade apenas pelo que ele era como pessoa, mas também sempre soube que eu jamais o trairia. Afinal a máfia é uma família. Sendo mais enfático eu sou o braço direito e Vito é o cabeça, o braço direito dar um tiro na cabeça nada mais é do que suicídio. Eu sei que sou muito mais racional que a grande maioria que entra na máfia e Vito percebeu isso rapidamente. No fim eu virei seu conselheiro.

Na vida ou você sobe ou você desce, se tentar se acomodar alguém vai usar você de escada. Foi assim que cheguei ao cargo que estou hoje, pisando nos outros para subir e nunca sendo pisado. A vida nunca foi gentil comigo, por que eu seria gentil com alguém?

Templário. Templário. O que você pensa sobre ele? Certamente não a mesma coisa que eu. Ele será morto em algum momento por nós, é apenas uma pessoa e se fosse mais esperto não brincaria com Don Vito. Na verdade ninguém nunca chegou tão perto de deixá-lo fora de controle como esse cara.  Não imagino que ele tivesse tamanha coragem sem a máscara. Se eu fosse ele trataria ela com o máximo de carinho, afinal ela é a barreira que nos separa dele, é o único motivo dele ainda estar vivo.

Às vezes eu até penso que seria interessante que ele conseguisse seu objetivo. Eu certamente me safaria dessa e Don Vito também e então eu poderia levar uma vida normal para variar, sem precisar ficar subornando metade da cidade para que a família consiga realizar seus negócios. Minha única preocupação é se Vito aceitaria perde para um único homem. Um qualquer vindo de lugar nenhum estava matando sua família e ele não conseguia fazer nada, isso era uma ferida aberta em seu peito. Talvez se ele pressionar um pouco mais o Don. Sim Talvez.

Talvez templário. Apenas talvez.

***

Nunca pensei boa coisa de Johnny, mas sempre achei que fosse um rapaz esperto. Depois dessa conversa tive certeza que ele era muito mais inteligente do que eu imaginara a princípio, frio com certeza, mas definitivamente muito inteligente.

Não pude me conter e perguntei como meu irmão virara o homem da maleta de Don Vito. Devo dizer que me surpreendi com a resposta. A história dele foi mais ou menos assim.


4.2 Suposições

Se me lembro bem foi em um domingo. Eu acordei cedo e fui correr como em qualquer outro dia, porém aquele dia foi diferente. Assim que cheguei em casa um rapaz estava me esperando com um carro parado na porta da minha casa, certamente algo inesperado.

- O Don precisa falar com você.

- Certo. E eu preciso de um banho, me espere só mais alguns minutos.

O rapaz acenou com a cabeça concordando, não imaginei que ele fosse dizer algo em contrário, afinal eu era o consigliere, o número dois. Subi as escadas e fui direto para o banheiro tomei meu banho sem me apressar para atender aos caprichos de Vito, não poderia pensar em algo tão importante que não pudesse esperar um pouco mais, terminei o banho e desci. Assim que me aproximei o motorista abriu a porta do carro e eu entrei. Quando começamos a nos mover perguntei:

- Aonde estamos indo?

A resposta me pegou de surpresa.

- Estamos indo a igreja senhor.

O que ele queria comigo? Será que estava me levando para confessar meus pecados? Desculpe, nada contra, mas não estava pronto pra isso ainda. Eu não sabia o que Vito queria, mas isso não era assim tão importante. Logo eu descobriria.

Chegamos à igreja e a missa já havia acabado, o que queria dizer que o local estava vazio. Seria somente Vito e eu, provavelmente era algo importante. Templário imediatamente passou pela minha cabeça, mas o assunto em pauta certamente me surpreenderia. Mandei o motorista esperar lá fora e entrei. Meus passos ecoaram pelo lugar vazio até chegar aos ouvidos de Don Vito que não se virou para me encarar, mas chegou para o lado no banco em que estava, abrindo assim lugar para que eu me sentasse a seu lado. Assim que sentei ele já foi direto ao  assunto sem nem mesmo um "bom dia":

- Tonny está morto. Uma chance para adivinhar o assassino.

- Templário? Não faz o perfil dele.

-Sim e sim. Incômodo isso não?

Passou para minhas mãos a cruz encontrada na cena do crime. Não havia dúvidas que fora ele, mas Tonny não era seu tipo de alvo. Poderíamos encontrar alguém para substituí-lo com um estalar de dedos. Se colocássemos uma placa na porta formaria fila,não era uma peça importante no tabuleiro, era um peão e o Templário não estava atrás dos peões e isso era o que mais nos assustava. Nos assustava tanto quanto a sua recente mudança de atitude. Problemas. Sei que Vito tinha um plano, eu também tinha alguns, mas ele não me chamara aqui para planejar por ele e sim para ajuda-lo. Essa não era a hora de atrapalhar o Don com minhas idéias, seus planos já haviam sido traçados, ele queria minha opinião sobre eles. Queria saber se estava certo. Era o momento de ouvir o Don.

- Já tenho em mente o substituto de Tonny.

Isso não era importante agora, Vito deveria saber disso, mesmo assim esperei para que ele concluísse seu raciocínio.

- Quero Felipe como homem da maleta. Acho que você deve imaginar o motivo.

Poderia imaginar alguns.

- Você acha que o irmão do garoto é o justiceiro?

- Possível. Mesmo que não seja ele certamente é honesto, trazer o garoto para perto de nós seria um recado claro. Além disso ele deixou o templário escapar da última vez.

- Ou se livrou da máscara e fingiu que o havia perseguido até ali.

Vito pensou por um tempo e finalmente chegou ao ponto que queria desde o início.

- Também é possível, mas isso é você quem vai julgar consigliere. Quero que você contate o garoto e fique junto dele o máximo que puder. Se ele estiver escondendo algo você vai saber rápido e se não estiver... ao menos isso garantirá que o policial não vai deixar o assassino escapar da próxima vez.

- Certo é um bom plano. Ao menos vai converter o problema criado pelo Templário em oportunidade. Vou falar com o garoto agora mesmo.

Me levantei e sai andando pelo corredor. Até que Vito me chamou.

- Johnny. Já pensou na possibilidade do garoto ser o templário?

Não. Não havia pensado nisso. Ele frequentava bastante a igreja, mas isso não era prova de nada afinal éramos o que éramos e estávamos conversando em uma igreja não é?

- Nunca pensei nisso Vito. Ele é tão boa gente. Ele nunca me pareceu ter o perfil de assassino serial.

Sorri ao falar isso, mas Vito parecia estar realmente preocupado.

- Fique atento Johnny. Estou contando com você. É o melhor que conheço para ler as pessoas.

- Obrigado Vito. Não se preocupe se qualquer um dos dois irmãos for o assassino eu saberei e nós vamos pegar eles.

Disse isso, deixei o lugar e rumei direto para a casa de Felipe.

As palavras de Vito ficaram em minha mente por muito tempo. "Johnny. Já pensou na possibilidade do garoto ser o templário?" e sempre que me esforçava para me concentrar nisso eu ouvia minha resposta ecoar em minha mente, como se ainda estivesse naquela igreja, "Nunca pensei nisso Vito." E era verdade, eu NUNCA havia pensado sobre isso antes. NUNCA. Logo eu que sempre penso em tudo. Problemas.



2 comentários:

pauline disse...

muito bom o capitulo amore vc esta cada dia melhor mil bjus

Anônimo disse...

MUITO BOM O CAPÍTULO !

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