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Conto - Mistérios na Cidade 6

05 novembro 2011


Capítulo 6 - Uma Longa Noite de Resgate

A noite em que estávamos foi longa. Talvez a mais longa que nós já vivemos, não sei ao certo, mas o que tenho certeza é que foi a mais tensa e desesperadora. Afinal a situação estava ruim e tinha muita margem para piorar, Alpha sozinho indo na direção de uma luta entre gangues.

Com Lúcio de cama no hospital cabia a mim, Tomas, resolver a situação. Eu teria de correr muito essa noite. Precisava encontrar duas pessoas. Duas pessoas que poderiam nos tirar daquele beco sem saída.

6.1 Lúcio e Tomas

Tomas voltou para o quarto de Lúcio e o olhou nos olhos, enquanto imaginava por onde começaria a falar. Foi Lúcio quem começou:

- Você o deixou ir não é mesmo?

- Sim.

- Achei que isso pudesse acontecer.

- Como você sabe que vai ter luta hoje?

- Eu estava com o chefe dos motoqueiros mais cedo. - Tomas não conseguiu esconder a sua surpresa. - Nós somos amigos antigos na verdade, mas não nos víamos havia muito tempo. O nome dele é Ricardo. Ele mudou bastante devo dizer, até o nome mudou para Rider, mas continua sendo boa gente. Um pouco perdido na vida é verdade, mas quem de nós sabe dizer o que é certo, ou vai ser certo um dia?

- O que você queria com ele?

- Conversar. Não falei nada sobre os noturnos. Queria que ele parasse com essa loucura. Avisei da minha suspeita sobre JP ser um casher, só que isso o animou ainda mais.

- Ele é louco?

- Um pouco. Sempre buscou adrenalina, quando o conheci ele praticava parkour, ele era muito bom. Devia ter imaginado, mas pensei que como se tratava de um casher, de uma lenda ele perceberia que era a hora de recuar. Acho que fui um pouco ingênuo.

- Cara e se o Alpha acabar entrando no meio da briga desses loucos? Vai ser o fim dele, por mais bom de briga que ele seja.

- Ele sabe lutar?

- Quando sóbrio sim, mas parece que ele vem se esforçando muito em se manter bêbado nos últimos tempos.

- Verdade, mas não temos tempo para isso agora. Você sabe o que vai fazer?

- Sei sim. Pra falar a verdade... eu tenho um plano.

6.2 Na boca do lobo

Alpha chegou à boate cedo. O lado bom era que tinham poucas pessoas por perto, o lado ruim é que com menos gente ficava um pouco mais difícil passar desapercebido. Talvez não fizesse diferença ter muita ou pouca gente. Havia alguns seguranças com duas vezes o seu tamanho, que provavelmente tinham ordens para pegá-lo e levá-lo até JP, ou ele podia estar sendo paranóico. De qualquer forma tentar encontrar outra entrada seria a coisa mais prudente a fazer. Não queria ser apanhado antes mesmo de entrar.

Não encontrou nenhuma porta lateral. Nos filmes sempre há uma porta lateral, na dura realidade somente a entrada para convidados e outra para carga. Ambas muito bem vigiadas por seguranças que pareciam maiores cada vez que Alpha os olhava. Estava meio que sem ideias quando olhou para o prédio ao lado e percebeu que tinha mais ou menos a mesma altura da boate. Prédios sempre tinham terraços.

O problema seria entrar no prédio, mas isso seria fácil. Esperou algum morador entrar e foi logo na sequência. Os porteiros não conhecem todos os moradores e se você demonstrar segurança consegue passar fácil. Não que ele já tivesse tentado isso alguma vez antes, mas acreditava já ter visto algo similar na televisão.

Foi para o último andar que o elevador alcançava e subiu o resto de escada. No terraço precisava pular de um prédio para o outro. Ficou com medo, mas pulou. Na verdade foi mais tranquilo do que ele esperava. Um salto, um rolamento e estava no prédio ao lado.

Agora queria encontrar uma entrada para os andares de baixo da boate. Procurou um pouco, pensou até em tentar a ventilação, mas essa era muito pequena para que ele pudesse passar. No fim encontrou uma porta. Girou a maçaneta e empurrou. Abriu. Fácil assim. O lugar podia estar protegido, mas não era uma fortaleza. Desceu as escadas e chegou a um corredor com salas dos dois lados. A área administrativa do lugar, aparentemente só funcionava durante o dia.

Não encontrou ninguém até chegar a um local meio escondido da pista. Não tinha tido nenhum problema de verdade até ali, só precisava encontrar JP agora. Procurou e o viu no segundo andar olhando para baixo, aquela devia ser a área vip. Se escondeu um pouco e começou a pensar como chegar lá sem causar muita confusão.

Foi nessa hora que a confusão começou...

6.3 Procurando

Tomas saiu do hospital logo depois de terminar a conversa com Lúcio. Havia gostado do plano, mas o avisou que seria difícil encontrar as pessoas que procurava no tempo que precisava. Confiava bastante no julgamento de Lúcio, por isso estava na rua procurando mesmo sem ter recebido a ligação de S0uL. Não se importava em ficar rodando por toda a cidade. Cada segundo que perdia parado era mais difícil de conseguir ajudar Alpha e Paula.

Vagou algum tempo e passou por diversos bairros. Já tinha perdido a noção do horário. Olhou no relógio. Tinha se passado uma hora desde que Alpha deixara o hospital. Muito tempo. Não sabia o que poderia estar acontecendo na boate agora.

Sentou em uma praça para descançar e em poucos segundos o telefone tocou. Era S0uL.

- Cara como é difícil achar alguém nessa cidade.

- Imagino. Desculpe a demora. Encontrei uma pessoa que você precisa.

- Quem?

- O Lutador.

Estava perto de Tomas, talvez uns cinco minutos de caminhada.

- E o outro?

- É difícil. Muito difícil mesmo. Vai demorar mais um pouco.

- Imaginei que fosse ser assim. Valeu Soul, continue procurando.

Desligou e saiu correndo. Virou uma rua e depois outra. Estava ficando sem fôlego quando o viu. Não havia dúvidas. Era ele. Olhou mais um pouco e descobriu a câmera de rua pela qual S0uL pôde vê-lo.

O alcançou e o parou.

- Lutador. Eu preciso de sua ajuda. Você precisa salvar meus amigos, Alpha e Paula. Vai ter uma briga entre motoqueiros e cashers. Agora. Você precisa ajudá-los.

Ele passou o tempo todo olhando para algum ponto atrás de Tomas, porém quando ouviu a palavra Casher pareceu despertar. Encarou o nos olhos e falou uma única palavra.

- Onde?

Tomas respondeu e recebeu em troca o que pareceu ser um meio sorriso. O Lutador saiu andando sem dizer mais nada. Esperava que isso fosse o suficiente. Agora precisava correr atrás de outra pessoa. Alguém que resolveria tudo de verdade, ou assim ele esperava.

6.4 Briga

A boate virou uma loucura total em poucos segundos. Lembrava bastante aquela festa que os motoqueiros invadiram. A diferença é que dessa vez Alpha não sabia onde estava Paula e não sairia de lá sem ela.

Alguns entraram com as motos mesmo e estavam ameaçando atingir várias pessoas que estavam correndo para fora do lugar. Pessoas que não tinham nada haver com aquilo tudo. Na verdade mesmo Alpha achava que não tinha nada haver com aquela briga. Só queria salvar sua amiga e ir embora.

Os seguranças estavam por toda a parte dando combate aos arruaçeiros. Tudo parecia estar indefinido, até que Alpha viu aquele que parecia ser o líder. Ele acertava um segurança com cada golpe seu. Seus movimentos eram elegantes. Rápidos e precisos. Quando chegou perto da varanda ele saltou e foi se agarrando até conseguir se alçar ao segundo andar. Aquilo foi inacreditável. Não o fato dele conseguir subir, mas a facilidade com que fez isso.

Encarou JP e se preparou para acertá-lo, mas um cara estranho se posicionou entre os dois. Estava com uma faca na mão. Parecia que o chefe dos motoqueiros encontraria problemas em vencê-lo.

Jota não quis saber do resultado da luta. Começou a descer e para o espanto de Alpha arrastava Paula atrás de si. Foi rapidamente para a escada em que os dois apareceriam e esperou. JP passou descendo correndo e nem percebeu a mão de Alpha que se aproximava de punhos cerrados. O acertou em cheio no rosto com tanta força que o fez cair para trás. Alpha vasculhou os bolsos e encontrou a arma que fora disparada contra Lúcio. A apontou para Jota que estava caído.

- Vamos Alpha. Vamos embora. Deixa isso pra lá.

Era Paula que falava enquanto o puxava. Ele concordou e correu. JP levantou e gritou.

- Levei outro soco? Pra que que eu contratei vocês? Pra me assistirem apanhar? Eu quero aqueles dois! Puncher!

Um rapaz branco e loiro começou a correr atrás deles. Seria um segurança normal se ele não estivesse usando apenas uma bermuda e chinelos. Aquele cara com certeza não era nem mesmo um segurança.

6.5 Os Mercenários

Tinham acabado de sair do prédio e atravessar a rua. Estava tudo uma loucura. Motoqueiros enfrentavam seguranças por todos os lados. Alpha começou a se achar meio idiota por acreditar que Jota estava tão preocupado com ele a ponto de colocar tantos seguranças. Provavelmente ele já estava com medo de um ataque, e como sabia que os motoqueiros não entrariam pelo teto, nem mesmo se preocupou em verificar a porta do terraço.

Estavam chegando na esquina quando Paula olhou para trás e gritou.

- Alpha, cuidado!

Alpha se virou e viu o estranho que Jota chamou de Puncher correndo atrás deles. Em um movimento rápido ele pulou para a parede e deu dois passos sobre ela. Assim que percebeu o que ele pretendia empurrou Paula para o lado, porém quando tentou desviar o rapaz já pulava da parede na sua direção. A mesma perna que ele usou para conseguir o impulso para o pulo foi a que acertou o peito de Alpha. A força do chute foi tanta que o derrubou no chão e deixou uma marca de chinelo em sua camisa.

Levou instintivamente a mão no local que a arma estivera e percebeu que ela havia escapado dele e deslizado pelo chão, somente o suficiente para ficar fora do seu alcance. O destino as vezes pode ser cruel. Tentou levantar, mas outro chute surgiu de algum lugar e o colocou de novo no chão. “Tá bom entendi o recado.” Pensou.

Puncher pegou a arma e para a surpresa dos dois amigos retirou o carregador e o desmuniciou com movimentos rápidos. Atirou o cartucho longe e desmontou a arma, jogando cada parte em uma direção diferente.

- Não preciso disso pra cuidar de vocês dois.

Começou a caminhar na direção de Paula, o que fez com que Alpha recuperasse a vontade de levantar.

- Sai de perto dela e vem lutar comigo.

Ele olhou para o garoto por um momento e no seguinte já pulava em sua direção com mais um chute. Alpha foi pego desprevenido pela velocidade do movimento e quase caiu para trás enquanto tentava se esquivar.

- Não era bem isso que eu tinha em mente.

- Você é fraco rapaz. Não vai conseguir nada lutando comigo.

Alpha se desviava como podia das sequências de chutes. Eram saltos e chutes muito fluidos e rápidos. Mesmo quando tentava acertar algum golpe ele parecia se esquivar e iniciar outro chute em um único movimento. Alpha começava a achar que não tinha a menor chance, Paula já suspeitava disso havia algum tempo.

Começava a se cansar quando Puncher acertou mais um chute. Não houve muito o que fazer a não ser cair no chão. Já tentava se levantar, ao mesmo tempo que esperava que outro golpe viesse em sua direção, quando viu alguém em pé entre os dois. Assim dava até para ter esperanças.

6.6 O Reforço

O Lutador estava parado ali bem na frente de Alpha. Sua postura era engraçada. Estava bem ereto, chegando até a se curvar um pouco para trás. A guarda sempre abaixada, sem nem mesmo esboçar qualquer vontade que fosse de levantar as mãos. Podia ser um cara estranho, mas Alpha não tinha dúvidas de sua habilidade.

O Lutador sorriu e Puncher atacou. Um chute visando o rosto. Só foi possível ver o rastro da mão que acertou sua perna, desviando o chute com a força do impacto. Assim que seu pé tocou o solo, a mão foi diretamente ao local em que foi atingido. Ficou claro para todos como aquilo havia machucado.

O chute seguinte foi um truque. Fingiu que visava o ombro e com uma rápida finta acertou as costas. Lutador foi empurrado para frente, mas não se importou. Utilizou o impulso e acertou uma cabeçada em cheio no nariz de seu adversário. Puncher não caiu, nem mesmo pareceu que iria fazê-lo, mas ficou claro que aquilo também havia doído bastante.

A luta prosseguiu com golpes igualmente duros e Alpha finalmente entendeu. “Ele não quer defender nada. Por isso não levanta a guarda. Tudo o que ele quer é causar o maior dano possível.” Paula percebeu a expressão no rosto do amigo e explicou:

- É sempre assim. Você pode não lembrar porque estava bêbado no dia, mas eu lembro. Ele pode até ser atingido, mas a resposta ao golpe é que é o problema. São sempre golpes fortes e rápidos. A postura dele está diferente, mas a técnica é a mesma.

Alpha voltou a prestar atenção na luta a tempo de ver Puncher sair do chão com outro de seus chutes giratórios, mas para o seu azar sua perna foi agarrada em pleno ar. Depois disso não conseguiu fazer nada para evitar ser jogado de costas no chão, mas ao menos acertou um chute no peito do Lutador, o que o obrigou a soltar a perna que estava segurando e ao mesmo tempo foi o que permitiu que ele se levantasse.

Quando os dois estavam novamente em pé o Lutador falou sem olhar para Alpha.

- Achei que você tivesse uma princesa para salvar rapaz.

Dessa vez foi Paula que o puxou para saírem correndo. O único caminho era de volta pela rua da boate e foi para onde foram. Puncher estava muito ocupado com a luta para impedi-los, mas isso não seria necessário.

A rua estava tomada pela luta entre as gangues. JP chamara reforço e agora os motoqueiros se defrontavam com pelo menos o triplo de seguranças do que Alpha tinha visto na boate. Estava o caos. Passar por ali seria loucura. Seria como pedir para serem acertados. Voltar também não era a melhor das ideias. Tinham certeza que Puncher não seria lá muito colaborativo com a fuga deles, por mais que o Lutador o espancasse.

Não tinham muitas opções, mas tinham de sair dali e rápido.

6.7 A Guerra

O melhor que Alpha e Paula puderam fazer para evitar que fossem arrastados para o meio da batalha foi recuar um pouco de volta para a rua lateral pela qual saíram e se esconder em um canto escuro. Não acreditavam que isso poderia trazer muita proteção, mas teria de servir até que conseguissem sair do meio daquela loucura.

A luta era generalizada e tomava a rua inteira em uma confusão de sangue, motos e tiros. Um motoqueiro passava perto deles quando foi derrubado da moto quando alguém o acertou com um taco de basebol no peito. Ele caiu, mas a moto continuou andando e acabou por cair em cima do agressor que, pelo grito que soltou, fora queimado pelo cano de descarga da moto descontrolada. “Que ironia” pensou Alpha.

Não encontrava os líderes dos dois grupos, então deduziu que ainda estivessem dentro da boate. Ficou curioso para saber o que poderia ter acontecido, afinal quando saíra da boate a luta era bem menor, sendo restrita ao interior do edifício. Em algum momento entre a fuga e o retorno a rua fora tomada pela luta.

Alpha percebeu que a luta se tornou menos intensa perto deles e chamou Paula. Apontou a direção e sinalizou para irem. Ela também havia percebido a oportunidade e rapidamente concordou com a cabeça.

Começaram a se arrastar para fora de onde estavam escondidos e avançaram pela rua. Primeiro andando e cada vez mais rápido até estarem correndo. Tentavam não olhar para os lados enquanto se moviam, mas era impossível. Viam a violência da batalha bem perto deles. O perigo era grande e em um dado momento da corrida Alpha teve de segurar Paula pelo braço para fazê-la parar. A garota ficou sem entender até que um motoqueiro e sua motocicleta passaram desgovernados bem em frente a eles para se chocarem contra o muro mais à frente. Alpha chegou a pensar em fugir na moto, mas o choque foi muito violento e acabou danificando a máquina.

Continuaram correndo e já estavam quase saindo do campo de batalha quando Paula gritou e apontou:

- Olha.

Como a garota não se mexia Alpha parou para olhar. Quase não acreditou no que viu.

Jota estava a ponto de ser empurrado pelo líder dos motoqueiros do terraço da boate diretamente para o chão três andares abaixo. “Ele devia ter trancado aquela porta do terraço.” Pensou Alpha parando de correr.


6.8 A Tempo

A perplexidade foi se alastrando em ondas conforme as pessoas paravam de brigar e observavam Jota ser cada vez mais empurrado para fora do prédio. Do lado dos motoqueiros se via a agitação com a proximidade da vitória. Já os mercenários contratados por JP não esboçavam nenhum tipo de reação.

Alpha entendeu aquilo como apreensão. Se você pensar que eles são meros empregados fica fácil entender. Se o seu empregador morre atirado de um prédio quem vai pagar o seu salário? Eles provavelmente não tinham outro contato com os cashers, com isso surgia a dúvida, como iriam cobrar algo de uma gangue que aparentemente não existe?

Com ele fora de combate todo o cenário mudaria. Novamente os negociantes voltariam para o anonimato e poderiam preparar o próximo golpe com mais cuidado. Claro que alguns motoqueiros, se não todos, pensavam que JP era o líder supremo dos negociantes e por isso, para eles, vencer ali significava a vitória definitiva. Alpha achava que eles estavam sendo muito optimistas.

Claro que essa derrota poderia significar o fim das disputas, mas não significaria o fim dos cashers, afinal se eles existiam de verdade então o resto dos boatos também deveriam ser verdade e pelo que se dizia eles dominavam a cidade inteira com pessoas influentes em todos os ramos de negócios da sociedade. Dos mais honestos aos mais perigosos.

A disputa no topo do prédio já havia chamado a atenção de todos na rua. Todos parados olhando para o mesmo ponto. Jota estava cada vez mais sendo empurrado, por mais que resistisse. Era uma guerra de forças que o líder dos motoqueiros estava vencendo. O equilíbrio estava cada vez mais instável e agora ele mais se segurava no seu oponente do que o empurrava para longe. Faltava muito pouco para a queda.

Nesse momento os dois pararam e um monge gritou com a voz calma e sem emoção lá de baixo e essa pareceu ecoar para que todos ouvissem:

- Por que lutam meus amigos? O que poderia valer o sangue de outro ser humano em suas mãos?

Passada a tensão, finalmente Alpha se deu conta da tranquilidade que dominava o lugar. Aquele monge que surgiu do nada era Buda e ao lado dele estava Tomas. “Finalmente ele chegou” pensou Alpha “atrasado para salvar a vida de Paula, mas bem a tempo de poupar JP de uma queda curta, mas potencialmente dolorosa.”

- Vamos lá falar com ele.

Paula falou, Alpha assentiu e os dois foram andando pela rua que momentos antes era um campo de batalha .

6.9 Conversas

Quando chegaram perto o suficiente para ouvir, puderam escutar Buda falando.

- Fez bem em me chamar, mas infelizmente não irei mais interferir nas disputas de vocês. Terá de arranjar forças para resolver seus próprios problemas. O sofrimento está em todo lugar. Cabe a você saber lidar com ele.

Tomas não sabia o que falar. A inspiração dele em não ser agressivo estava dizendo que não o ajudaria mais. Isso levaria a algumas situações que não se podia prever no momento, mas que ficaram muito claras pouco tempo depois. Tomas estava surpreso.

- Mas pra onde você vai?

Ele falou para que somente Tomas ouvisse. O garoto balançou a cabeça mostrando que sabia onde era o local. Voltou a falar:

- Espero que saiba o momento certo de me procurar. Você vai saber cuidar de tudo até lá. Agora... tenho que ir.

Ele se foi, mas a guerra não recomeçou. Muitos já haviam ido embora e talvez nunca voltassem para as fileiras de suas gangues. Sentiram a paz dentro de si e não poderiam mais exercer a violência de uma maneira tão natural, como fizeram até aquela noite. Os que ficaram não conseguiram retomar a luta imediatamente, pois mesmo tendo fechado os corações para a paz, ainda sentiam a aura de Buda e por isso eram incapazes de deixar os pensamentos negativos tomarem forma e virem a tona.

Tomas se virou e viu os amigos olhando para ele.

- Desculpe pelo atraso. Parece que as coisas não foram assim tão fáceis hein...

Alpha não havia se olhado no espelho depois da luta, mas podia imaginar em que estado estaria seu rosto depois de apanhar tanto.

- Não foi nada. Você chegou. Isso que importa. Na verdade eu taria pior se o Lutador não me ajudasse.

- Ele veio de verdade. Onde ele tá agora?

- Aqui. Quando Buda chegou não consegui mais lutar. Nessa o tal do Puncher fugiu e eu vi para cá.

Os amigos se olharam e iriam agradecer, mas ele continuou.

- Me deixe ajudar vocês. Quero lutar contra esses caras. Quero acabar com todos eles.

Os três ficaram sem palavras. O cara mais forte da cidade estava pedindo para ajudar a gangue deles. Pedindo para ajudar a acabar com todos os que estavam causando o caos na cidade. Pedindo para ajudar a fazer o que eles não sabiam nem por onde começar.

Nesse ponto começou a ficar claro para Tomas o problema. Buda, aquele que encarnava todos os sentimentos não agressivos, se recusara a ajuda-los, enquanto o Lutador, a própria agressividade, praticamente implorava para se juntar à gangue. Isso poderia ser o início da mudança de todo o espírito dos Noturnos. Tomas começou a pensar em alguma coisa para falar, mas Alpha foi mais rápido que ele.

- Claro. Nós estávamos pensando na mesma coisa.

Na verdade Tomas não estava, mas agora não havia o que fazer.

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