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Turbilhão de idéias - Dulce et decorum est pro patria mori

08 novembro 2011

Pátria ou morte! Moncada, M-26/07 e a Guerrilha como solução

Os revolucionários de Cuba não eram revolucionários de cunho profissional, eram apenas pessoas comuns que, empurrados por situações alarmantes, buscaram nas armas o ideal da mudança, de saída de suas mazelas. Florestan Fernandes nos ajuda a traçar a base ideológica destes amantes da Revolução, quando analisa o quadro de valores destes homens aonde, “palavras simples como compaixão, humildade, integridade, fraternidade, repulsa, trabalho, prudência, tenacidade, paciência, obediência, ousadia e cavalheirismo” , são suas leis máximas de vida.
A situação política em Cuba, posterior a queda de Machado, não se mostra otimista, à medida que um tirano sai do poder outro assume seu lugar. O governo de Batista, que se estende de 1940 a 1944, é marcado pela corrupção, subordinação aos EUA e ao tráfico de drogas.
Quando nas eleições de 1952 houve a oportunidade de triunfo de Fidel Castro, candidato de oposição pelo Partido Ortodoxo que vinha ganhando o voto do povo pelos seus discursos de moralização e soberania nacional, Fulgencio lança mão de um golpe de Estado no dia 10 de março daquele ano como manobra para alcançar o poder, fechando o país em um regime ditatorial.Esse golpe foi a fagulha determinante para por em brasas o processo revolucionário. O discurso de Fidel, logo após o acontecido, relate bem o sentimento de indignação que rondava todo o povo cubano.
“Era uma vez uma republica; ela tinha sua constituição, suas leis, sua liberdade, presidente, congresso, tribunais de justiça: todo mundo podia se reunir, se organizar, falar, escrever com toda liberdade. O governo não agradava ao povo, mas o povo podia mudá-lo e faltavam apenas alguns dias para que o fizesse. Existia uma opinião publica respeitada e acatada, e todos os problemas de interesse coletivo eram discutidos livremente. Havia partidos políticos, horas de doutrinação por radio, programas polêmicos de televisão, atos públicos e o povo palpitava de entusiasmo... Pobre povo! Certa manha, a população despertou estarrecida... não. Não era um pesadelo. Tratava-se da triste realidade: um homem chamado Fulgencio Batista acabava de cometer o crime que ninguém esperava.”
A insatisfação do povo cubano faz crescer o movimento antiditatorial que, no ano de 1953, se organiza em torno do advogado, atingindo o significante número de 1200 militantes e simpatizantes . A primeira ação revolucionária contra a ditadura batistiana, configurou-se em um ataque aos quartéis de Bayamo e Moncada, dois dos principais centros militares da província de Oriente, aonde Fidel pretendia, com a tomada das bases, dar início há uma greve geral atingindo todo o país e provocando a participação das massas e a deserção dos soldados.
O plano se mostra falho, boa parte pela ausência de treinamento militar dos revoltosos. Como conseqüência da ação frustrada temos: “um número de baixas do lado insurgente que chegou a noventa, sendo a maioria assassinada após o combate e a prisão dos principais líderes, entre eles os irmãos Raul e Fidel Castro.” O encarceramento dos líderes do movimento gera uma forte vertente cubana pela anistia, que foi alcançada no dia 15 de maio de 1955, concedida por Batista. Fidel vai exilado para o México aonde organiza um grupo disposto a realizar a guerrilha revolucionária cubana. Dentre os combatentes inseridos no exílio, duas figuras ganham extremo destaque, seriam eles o médico argentino Ernesto “Che” Guevara e Camillo Cienfuguos. No total, são reunidos 82 combatentes, sendo destes “Setenta e oito cubanos, um argentino, um italiano, um mexicano, e um dominicano” . Estes homens foram devidamente treinados com o objetivo de desembarcar em Cuba sincronizando uma ação armada a uma greve geral, implementada pelo setor urbano do M-26/07 (movimento 26 de julho) . O insucesso ficou por parte do atraso sofrido pelos revolucionários que, dentre outros contratempos, podemos citar: superlotação da embarcação utilizada e o aperto do cerco das autoridades mexicanas.
A próxima etapa da revolução consistia em uma mudança de estratégia. Agora, a prioridade seria priorizar a guerra de guerrilha nos campos cubanos, principalmente na região de Sierra Maestra que, devido seu terreno acidentado, possibilitava emboscadas realizadas pelo exército rebelde. A guerrilha era o braço armado do M-26/07, era seu elo com todas as classes e com a efervescência política revolucionária da sociedade. Ela “surgi como uma solução militar madura para uma “revolução dentro da ordem” falhada e impossível “ •. A guerrilha não combate somente o Ditador Fulgencio Batista, mas representa uma luta contra a opressão norte americana caracterizada na figura deste homem. Florestan nos lembra que “os guerrilheiros batem, simultaneamente, as forças nacionais e as forças imperialistas que se enfrentavam na defesa militar e política daquela ordem” Conforme as forças de Batista vão sendo rechaçadas, os M-26/07 realizavam a reforma agrária das regiões conquistadas. Ao mesmo tempo, as organizações centradas na cidade combinavam as ações urbanas com o recrutamento de novos combatentes para engrossar as fileiras rurais, como explica Emir Sader, ”esse foco inicial desenvolveu um trabalho de propaganda e de organização entre os camponeses, que incluía a alfabetização e ajuda sanitária com orientação médica.” . Os homens da revolução realizaram uma verdadeira mudança na qualidade de vida da população dos guajiros. Eles não estavam preocupados somente com o treinamento militar dos guerrilheiros, mas também com a saúde e a instrução destes, para que dessem suas vidas sabendo por que motivos lutavam.
A essa altura a guerrilha já contava com territórios livres, aonde possuíam total controle, segundo Sader: “realizavam ali formas embrionárias do novo tipo de sociedade, com serviços educacionais e sanitários, com governantes locais e assembléias populares.” . A adesão popular era tamanha que se podia dizer não se tratar mais de uma guerra de guerrilha, mas sim de uma guerra de colunas, aonde a única coisa que impedia a massa de tomar real partido nos conflitos é o fato de não existir em posse dos rebeldes armas suficientes para cada guajiro que gostaria de doar sua vida em prol do ideal revolucionário.
Em agosto de 1958 o Exército rebelde marcha sob duas colunas com objetivo de tomar a capital. A primeira delas, liderada pelo comandante Ernesto Guevara, tinha como missão cortar o país em dois, reduzindo a área de controle do General Batista, o isolando na capital Havana. A segunda, encabeçada pelo próprio Fidel, tinha como alvo de fato tomar o poder na cede administrativa e militar do país.
Com a saída de seu fantoche, os Estados Unidos rapidamente articulam um plano que visava à manutenção do controle exercida por eles no arquipélago caribenho. Foi uma espécie de tentativa de apropriar-se da vitória revolucionária, segundo Sader: “o plano foi colocado em prática por uma junta militar norte americana, que pretendia se instalar no poder” . Em resposta, quase que imediato Fidel Castro convoca o povo às ruas através da rádio revolucionária e ordena a “Che” que avance com seus homens para a tomada total dos pontos militares da cidade de Havana. Configurando assim no primeiro dia do ano de 1959 o fim da era ditatorial de Batista, e o marco inicial das reformas trazidas com a Revolução.
A Revolução Cubana é algo muito mais complexo do que uma simples luta de um povo descontente com um governo corrupto. Ela se mostra como a libertação de uma sociedade asfixiada por uma corrente de exploração que já perdura há séculos. A luta revolucionária, que inicialmente apresenta uma postura estritamente democrata, aos poucos vem introduzindo em seu âmago uma realidade totalmente diferente. Assim que se colocam em pratica suas reformas, fica evidente um, cada vez mais crescente, sentimento nacionalista, na medida em que as mudanças propostas por ela se chocam frontalmente com os interesses da principal potência internacional ligada ao antigo regime de dominação no país.
Das medidas pós revolucionárias, certamente, a que mais consequências causou , foi a realização da reforma agrária. Ela obteve forte apoio popular, todavia afetava diretamente o interesse americano, que era dono da maior parte dos latifúndios produtores de açúcar de Cuba. Segundo Luis Fernando Ayerbe, no que diz respeito às mudanças implementadas pelo governo revolucionário, “previam-se ações direcionadas a melhorar as condições de vida do povo, tais como o aumento salarial, direitos trabalhistas, diminuição de alugueis residências ou diversificar o perfil econômico do país, fortalecendo a industrialização.”
Os Estados Unidos respondem a nacionalização das suas empresas através de vários tipos de boicotes e sabotagens, desde ao desembarque de grupos contra revolucionários e ataques a navios e embarcações, à proibição da compra de qualquer produto que possuísse matéria prima cubana as nações dependentes dos EUA .
O governo vê como única saída viável para manter-se após o forte bloqueio norte americano um alinhamento com o bloco soviético:
“o governo cubano intensificou suas relações com a URSS. Primeiro vendendo para aquele país o substancial de sua safra de açúcar, que os EUA se negavam a seguir comprando. Depois, recebendo da URSS o petróleo que o vizinho do norte deixava de fornecer e, posteriormente, se abastecendo dos produtos que a interrupção brusca de seu intercâmbio com os EUA requeria. À proporção que as necessidades de defesa do regime cubano aumentavam, Diane da escalada de agressões dos EUA, A URSS se encarregou de abastecer Cuba do armamento para montar suas defesas militares.”
De fato a revolução realizada em cuba, não tinha intenção alguma em seu início de tornar-se uma revolução de cunho socialista, inclusive dentre os membros do M-26/07 apenas Che Guevara e Raul Castro eram lenistas declarados. No entanto, as circunstâncias posteriores a revolução, a postura adotada pelo bloco capitalista como um todo, levaram o comunismo como único caminho para a sobrevivência do regime cubano. Cuba só assume de fato uma postura Socialista depois do enfrentamento com os Estados Unidos atingirem um ponto violento e direto. Aqui me refiro aos diversos atentados terroristas que causaram grandes perdas na população cubana. Uma das medidas desesperadas dos EUA foi uma tentativa de reutilizar a estratégia que já havia sido testada com sucesso na Guatemala; uma invasão de cubanos exilados treinados pela CIA, que se passavam, por aparelhos da forças áreas cubanos em rebeldia contra o governo revolucionário. No entanto, esses militantes foram devidamente rechaçados pelo Exército da ilha, na região da Baía dos Porcos, fazendo com que o prestígio militar dos homens de Fidel só aumentasse.
Mesmo após o fim do 2° mundo, Cuba se mantém fiel às idéias socialistas. Em 1970, à medida que nas Américas presidentes nacionalistas assumem o poder aos poucos vão quebrando o bloqueio continental imposto pela nação hegemônica, todavia o próprio Estado Unidos só começara a aliviar as duras sansões em Cuba, após a saída de Fidel Castro do poder no ano 2008.

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