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[conto] Amanda III

04 abril 2010

Amanda

Parte III



3.1 O Jardim dos Sentimentos




Amanda abriu os olhos e contemplou o azul do céu, ela estava deitada no chão ao ar livre, mas não se lembrava de como havia chegado lá. Levantou-se lentamente e tentou descobrir onde estava. Era um imenso jardim de flores que se estendia até aonde Amanda podia ver. Ela não se lembrava daquele lugar, a não ser talvez em sonhos. Começou a andar pelo jardim observando as belas flores e as tocando com as mãos, como que para ter certeza que estavam ali. Tudo era tão real e vivo e belo, não parecia ser um sonho, mas era um sonho e Amanda sabia disso, sentia isso dentro dela.

Ela continuou a andar pelo jardim, a cada flor Amanda achava o jardim mais impressionante e a cada passo a beleza dele parecia se multiplicar. Caminhou até perder a noção do tempo, teriam sido alguns poucos segundos ou muitas horas? A garota não saberia responder essa pergunta.

Ela não se importaria de continuar sua caminhada eternamente ou até que despertasse novamente em sua cama e pudesse contar tudo a Guy, mas inesperadamente um vento soprou e isso fez com que o sonho mudasse. Uma nuvem parecia estar se deslocando e derramando sombras por onde passava. A garota não podia crer no que via. O tempo estivera claro e aberto a poucos segundos atrás. De onde teria vindo aquela nuvem tão macabra? Amanda não sabia dizer.

A nuvem foi se aproximando até que ela compreendeu. Não. Não era uma nuvem, mas sim a noite. A noite tomava lugar sobre o dia bem diante dos olhos dela. A noite estava caminhando lentamente sobre o jardim, mas de uma maneira que a menina nunca havia visto. Ela não estava gostando do que via, algo naquilo tinha um ar de macabro como se seu sonho estivesse se tornando um pesadelo, de maneira suave, porém obstinada tirando qualquer chance de reação por parte dela.

No limiar entre o dia e a noite vinha caminhando uma garota, Amanda não saiba quem era, mas teve um mau pressentimento. A garota caminhava em sua direção, lenta e decididamente e com ela trazia a noite e ao seu redor as plantas se fechavam, murchavam e por fim sumiam transformando todo o lugar em um grande deserto. Até que ela parou bem em frente à Amanda, que nesse momento não podia mais mover nada além dos olhos, que varriam o jardim em todas as direções a procura de suas queridas flores. Tudo agora era deserto. Tudo agora era noite. Amanda não conseguia se mexer.

O vento prosseguia e espalhava areia por todos os lados de uma maneira que antes não seria possível, pois a poucos minutos aquele lugar era um jardim. Amanda sentia o vento jogar areia em todo o seu corpo e ao que parecia estava começando a enterrar seus pés, mas a garota não olhou para eles. Amanda não conseguia se mexer.

Nesse momento quando seu desespero não poderia mais aumentar ela fixou o olhar na garota à sua frente. Ela usava um vestido todo preto que ia até os joelhos, era cheio de bordados e pedras pretas brilhantes e para completar estava descalça, fora isso a estranha garota era igual Amanda. Rosto, tamanho, cor da pele, olhos, tudo era idêntico. Eram gêmeas. Seria como se olhar em um espelho, não fosse pela expressão que trazia em seu rosto. Amanda a teria definido como a expressão mais triste que já vira alguém usar na vida, se conseguisse articular qualquer palavra, mas naquele momento seu cérebro parecia tentar entender o que se passava, sem obter qualquer sucesso.

Quando começou a voltar a si percebeu que algo emanava de sua gêmea, uma sensação ruim, como se a esperança estivesse sendo retirada a força de seu corpo e nunca mais fosse voltar, como se nunca mais fosse ser feliz novamente. Foi nesse momento que, para a surpresa de Amanda, a gêmea falou e sua fala era lenta, arrastada e cada palavra era carregada de um grande esforço:

- Oi Amanda. Eu sou a Tristeza.

Novamente a garota estava paralisada, os olhos fixos em Tristeza e aquela sensação ruim se apoderando dela.

Nesse momento Amanda desejou acordar.





3.2 Conversando com a Tristeza





- Desculpe. Onde quer que eu vá a noite me segue, não sei exatamente o que acontece. Acredito que tenha algo haver com meu estado de espírito. Por isso não posso ver a beleza do dia ou das flores ou mesmo das estrelas.

Não havia raiva ou mesmo amargura em sua voz, era apenas a constatação de um fato e tudo o que podia se perceber em sua voz era uma profunda tristeza. Amanda finalmente conseguiu se mexer apenas para olhar para o céu e para seu espanto realmente não havia estrelas nele,mas não estavam totalmente no escuro, o lugar fora tomado por uma luz estranha com um brilho etéreo e de alguma forma não natural o qual era impossível dizer de onde vinha. Isso não serviu para tranquiliza-la.

- Não fique assim. Caminhei até esse lugar apenas para ver você.

Amanda ainda em choque achou que deveria responder a pergunta e com isso começou a procurar a própria língua. Depois de alguns minutos ela conseguiu encontra-la.

- Me ver? Nós nem nos conhecemos.

- Claro que nos conhecemos. Eu sou você. Estive com você em todos os momentos tristes, fui sua única companheira.

- Não!

Amanda falou mais alto do que pretendia nesse momento. E continuou em tom normal.

- Guy foi meu único companheiro.

Tristeza olhou para ela com o que parecia ser pena e respondeu, embora Amanda não quisesse resposta alguma.

- Ele é apenas um boneco. Mas como pode ser nosso único amigo de verdade um brinquedo? Irônico eu diria. Ninguém estava lá conosco apenas nós duas. O que podemos fazer se ninguém gosta da gente de verdade?

A pergunta foi retórica, mas encontrou resposta em Amanda.

- Guy gosta de mim de verdade. Ele me ama e faria tudo por mim.

Tristeza estava com uma expressão de quem explica algo simples a uma criança de cinco anos, um olhar quase que maternal.

- Mocinha não insista nisso. Discussões como essa não nos levarão a lugar algum. Mas deve ser a perda do namorado. Realmente. Para seguirmos em frente você precisa entender que ninguém nos quer por perto. Para que assim possamos continuar. Sozinhas. Sem pessoas falsas. Ou pessoas imaginárias.

Nessa última frase Tristeza mudou o tom repetitivo e monótono para poder destacar o sarcasmo em sua voz, o que lhe pareceu exigir um grande esforço. Amanda sentiu-se triste por fazê-la se esforçar daquela maneira, mas isso provavelmente era efeito da aura que Tristeza transmitia ao ambiente. Sendo isso ou não ela não podia mais lutar, estava entregue. Para externar isso ao invés de concordar a menina caiu de joelhos no chão e isso bastou para Tristeza.

- Venha comigo Amanda. Vamos continuar juntas.

E dizendo isso estendeu a mão.

Amanda olhou da mão estendida para o rosto de sua gêmea e atrás dela viu uma luz. Uma luz de verdade quando acreditava estar tudo perdido. Tristeza se virou e quando a luz se aproximou as duas puderam ver quem caminhava na direção das duas.

Tristeza não alterou a expressão, mas a de Amanda passou de grande sofrimento para total e completa alegria e nesse momento as duas falaram juntas.

- Guy!

E Guy vinha na direção das gêmeas e brilhava e sorria. Estava feliz por perceber que Amanda, apesar de tudo, ainda estava bem e para ele isso bastava.





3.3 Me dê um Abraço Guy





Amanda não sabia porque em algum momento acreditara em Tristeza. Agora que Guy estava ali parecia que nada nem ninguém poderia lhe fazer mal e ela sentia um calor se irradiar de Guy em todas as direções.

Ela estava com uma expressão radiante, porém Tristeza não alterou a dela, mantendo-se indiferente à chegada de Guy.

- O que faz aqui boneco?

- Vim ajudar as duas, tira-las dessa conversa auto-piedosa que não nos levará a lugar nenhum.

- Não vejo como possa discordar de meu ponto de vista. Minha lógica é inegável.

- Talvez seja, ou talvez não. Talvez eu seja apenas um boneco ou talvez não.

A cada palavra que Guy pronunciava ele dava um passo em direção à Tristeza, de maneira firme e decidida parando a poucos centímetros de distância dela. Nesse ponto ele parou antes de completar.

- Talvez ninguém ame Amanda. - fez uma pequena pausa antes de terminar enquanto abraçava Tristeza - Ou talvez não.

Nada a prepararia para aquele momento. Toda sua auto-piedade, naquele rápido instante em que os braços de Guy a tocaram para um abraço, caiu por terra. Sua lógica arrasada. Sempre tivera alguém a seu lado, ela apenas não dera o devido valor.

- Obrigada.

Foi tudo o que conseguiu dizer após se recuperar do choque causado pelo inesperado abraço, pois após dizer isso ela se desfez em várias aves que saíram voando e rasgaram o manto da noite. E por onde voavam levavam a noite consigo deixando a luz do dia em seu lugar. Assim que Amanda viu os raios de sol reassumirem seu lugar e a luz tocar seu rosto ela desejou que o jardim voltasse e assim aconteceu. A partir dela, como uma onda que se espalhava para todas as direções, as flores reapareceram para tomar o lugar do deserto. Não se via mais areia, apenas flores. Apenas um jardim onde antes era deserto.

Com a cena a garota ficou extasiada. Girou ao redor e avistou Guy próximo a ela e não teve dúvidas em correr o mais rápido que podia em sua direção e dizer enquanto o abraçava:

- Guy! Que bom que está aqui, não sei como pude duvidar que viria.

- Não se preocupe senhorita, tudo foi um jogo da Tristeza.

- Ela mentiu para mim?

- Sim, mas ela não sabia disso. Para ela tudo o que dizia era verdade, depois que descobriu que estava irremediavelmente errada ela desapareceu.

Amanda não sabia exatamente o que dizer, mas estava feliz pelo amigo ter vindo em seu auxílio e isso era tudo o que podia pedir.

- Vamos andar pelo jardim. Acredito que a senhorita tenha outras perguntas e eu por acaso possuo outras respostas.

E dizendo isso os dois sairam caminhando lado a lado enquanto conversavam, mas dessa vez a beleza do jardim estava em segundo plano.

Guy explicou que Tristeza era uma encarnação de um sentimento e que existiam outras como ela. Explicou que era Amanda quem dava a força a eles e ressaltou como ela era forte. Quando Amanda falou da força de Guy, ele disse que sua força também provinha de Amanda, o que a surpreendeu. No fim disse que precisariam encontrar outras encarnações que a estavam atrapalhando, assim como Tristeza, para que Amanda pudesse reencontrar a felicidade e tudo ficaria bem. E antes de dar qualquer passo em qualquer direção que fosse ele ressaltou o risco de que Amanda fosse dominada por alguma encarnação e assim nunca conseguiriam encontrar a felicidade da garota. Após pensar um pouco Amanda deu sua resposta:

- Com você iria a qualquer lugar, mas gostaria de pedir uma coisa Guy.

- O que a senhorita desejar eu farei.

- Me dê um abraço Guy.

E eles se abraçaram. E ficaram parados enquanto o tempo passava por eles. E não gostariam que aquele momento passasse, pois tudo o que importava era que ficassem juntos. Porém momento nenhum dura eternamente e como todos os outros esse momento passou e os dois se soltaram e se observaram. Depois de um longo minuto, lado a lado, eles começaram a caminhar.

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