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[conto] Amanda V

17 abril 2010

Amanda




Parte V




5.1 Lago Fervente





    A paisagem fora da caverna era incrível. Única. Um vulcão dominava a paisagem e ao redor a lava solidificada dominava o terreno, se estendendo da saída da caverna e subindo em camadas que pareciam formar degraus até o topo da montanha, onde se via o pináculo do vulcão. Isso já seria o suficiente para a paisagem ser anormal, mas não era isso que a tornava única. No vulcão havia uma nascente e a água ia descendo pelas fendas na lava esculpindo-a e se acumulando em algumas que já haviam sido transformadas em piscinas naturais, umas pequenas e outras tão grandes que pareciam lagos. Toda essa água era aquecida pelo calor do vulcão, envolvendo a paisagem toda em vapor. Amanda só pensava em uma palavra: única.



    - É tão lindo.



    - Verdade senhorita, mas não se deixe enganar até o lugar mais belo esconde seus perigos.



    Amanda não gostou do tom de Guy, parecia preocupado, mas estavam juntos e terminariam tudo aquilo. Não tinha mais medo, vencera essa etapa.



    Os dois foram subindo a montanha na direção do maior lago que puderam ver. Os degraus naturais eram bem largos e pouco íngremes, facilitando bastante a subida. Caminharam em silêncio e de mãos dadas durante todo o percurso, Guy estava pensando em algo e Amanda sentiu isso, alguma coisa não estava tão bem. Até que quando chegaram na beira do lago ele falou.



    - Senhorita. Essa é a última encarnação que precisamos superar e após ela você vai acordar. Gostaria que você entendesse que se eu não estiver do seu lado é porque meu tempo em seu mundo acabou e eu tive de voltar para casa.



    - Por isso você está triste. Você não pode voltar comigo?



    Enquanto Amanda falava ela foi chegando perto de Guy e o abraçou. Estava triste também, queria Guy ao seu lado, não podia deixa-lo partir.



    - Não sei exatamente como funciona, essas coisas são complicadas, mas não podia esconder essa possibilidade de você. Não podia correr o risco de te decepcionar. Em todo o caso vou te dar um presente de despedida senhorita, não achei que seria assim, mas não haverá situação melhor tenho certeza.



    Guy retirou do pescoço um cordão que possuía um frasco pendurado. Envolveu o frasco com a mão e começou a se concentrar e quando terminou 
o recipiente estava cheio com um líquido prateado.


    - O que é isso?



    - Um frasco de memória. Ele é especialmente feito para que se coloque uma memória dentro dele. Coloquei aqui minha memória da cidade entre mundos que a senhorita gostou tanto. Quando o sonho terminar segure o frasco e despertará com ele em sua mão.



    E dizendo isso colocou o cordão em volta do pescoço de Amanda. Nesse momento os dois se beijaram, eles não saberiam dizer quem tomara a iniciativa, mas no fundo isso não importava. Foi como se aquele momento passasse em câmera lenta, ao mesmo tempo em que passou rápido demais, foi como mágica ou como um sonho. Por Amanda esse momento duraria para sempre, mas ele teve fim quando Guy se afastou dela.



    - Ela vem vindo senhorita. Se prepare para nosso desafio derradeiro.



    Ao entender o que estava para acontecer a garota se posicionou logo atrás de Guy e rezou pelo melhor para os dois. Nesse momento surgiu um pilar de fogo na frente dos dois alguns metros a frente, as labaredas subiram muito acima de suas cabeças, de uma maneira impetuosa e com isso formou-se uma cortina de névoa muito densa, feita pela água que era rapidamente fervida. Primeiro Amanda achou que fosse o próprio vulcão, mas conforme o fogo foi diminuindo ela pode ver uma sombra no meio dele e então teve certeza do que era aquilo.



    O fogo continuou a diminuir até sumir e a encarnação se revelar. Era Amanda, como esperado, mas possuía cabelos de fogo e vapor saía de sua pele como água em contato com uma chapa muito quente. Sua expressão fechada dizia tudo e a partir dela Guy adivinhou seu nome.



    -Raiva...



    Foi tudo o que teve tempo de dizer. Assim que tentou continuar a falar Raiva partiu em sua direção e acertou um soco bem em cheio no seu rosto o derrubando no processo. Guy sentiu a pele esquentar e quase queimar no local onde fora atingido, isso não era nada bom. Não satisfeita com o soco ela criou uma espada feita de chamas e tentou um golpe na vertical, Guy no chão percebeu o que estava acontecendo, sacou sua espada e aparou o golpe. Sentiu-se feliz ao perceber que a espada de fogo da Raiva não atravessava a sua como pensara que pudesse acontecer, nesse momento entendeu que a espada não era feita somente de fogo como achara a princípio.



    - Vejo que não haverá conversa. Então deixarei que minha arma fale por mim.



    Dizendo isso ele empurrou a espada da Raiva com a sua para longe de seu rosto, lugar que fora visado pelo golpe, e se levantou com um salto. Com isso teve início o duelo.





5.2 Duelo de Espadas





    Raiva atacava incessantemente, com golpes verticais e horizontais, sempre visando partes do corpo que podiam Guy fora de ação com um único ataque bem sucedido. Guy por sua vez apenas defendia e esquivava, sua técnica com a espada era invejável. Lutava com as costas retas e o olhar fixo no oponente, mas alguma coisa em seu olhar preocupava Amanda, após algum tempo pensando ela compreendeu. Ele esperava resolver as coisas sem precisar chegar a esse ponto, em momento nenhum pretendera efetivamente lutar contra alguém que fosse praticamente gêmea de Amanda. A garota ficou nervosa e pensou em ajudar, mas então compreendeu a estratégia de seu defensor: cada movimento dele era feito com a intenção de mante-la protegida atrás dele, impedindo o avanço de Raiva sobre ela.



    Os golpes da Raiva não possuíam foco, eram distribuídos agressivamente em todas as partes do corpo de Guy, mas para isso ela sacrificava sua precisão e o elemento surpresa, pois seus ataques eram sempre diretos. Ela estava sacrificando tudo isso em prol de golpes mais fortes e contínuos, apesar dessa estratégia facilitar que o oponente apare ou se esquive ela também cansa mais os lutadores. Raiva estava confiante que Guy perderia o fôlego antes dela.



    Ela tentou um golpe horizontal que foi defendido por Guy, mas sua força, combinada com o cansaço do cavaleiro, conspiraram para que a espada dele saísse da mão voando e atingindo o chão ruidosamente. Isso seria um problema. Raiva tentou finalizar a luta com um ataque diagonal que tinha como alvo o ombro esquerdo de Guy, porém ele conseguiu se abaixar e rolar em direção a sua própria espada, fazendo a espada da Raiva zunir no vazio.



    Ele recuperou sua arma e tentou se por em guarda, mas sua oponente se aproximou dele com um salto, ao mesmo tempo que desferiu um golpe vertical. Com um movimento rápido ele passou sua espada pela da Raiva e a empurrou para cima, o efeito foi a espada de Raiva voar de sua mão e cair fincada no chão alguns metros atrás de Guy. Nesse instante ela recuou alguns passos para sair do alcance dele, no seu rosto podia ser identificada uma certa surpresa, nunca fora desafiada daquela forma.



    - Minha honra me impede de lutar em condições superiores - dizendo isso ele arremessou sua espada para longe - Lutaremos com as mãos limpas.



    Raiva pareceu não se importar e avançou na direção de seu oponente com a mesma determinação de antes.





5.3 Acabou a Luta





    Ela fez chover uma tempestade de socos e chutes sobre Guy, enquanto ele defendia alguns e se esquivava de outros. Cada golpe que passava por ele deixava um rastro de fogo atrás de si tamanha a violência e velocidade. Conforme a luta passava ele notou que os golpes de Raiva estavam começando a queimar suas mãos e pernas, isso não era bom.



    Amanda percebeu que o olhar de Guy mudara desde que conseguira desarmar sua adversária. Parecia mais tranquilo e confiante do que antes, agora sim parecia o Guy que ela conhecia, aquele que estava lá para ajuda-la nas piores situações. Ela finalmente compreendeu que a preocupação se devia ao medo de machucar Raiva e agora com as mãos nuas esse risco havia desaparecido. Chegou até a imaginar a possibilidade de que ele tivesse conduzido a luta até aquele ponto propositalmente, cada passo, cada golpe e cada esquiva, até mesmo a perda de sua própria espada. Se isso fosse verdade o que ele teria em mente agora?



    Raiva avançou com um direto de esquerda e Guy em resposta se desviou e deu um passo em direção a ela, encurtando a distância, e rapidamente a empurrou, a obrigando a recuar alguns passos. O golpe a pegou desprevenida o que causou hesitação no ataque seguinte. As duas aguardavam o próximo movimento de Guy para saber qual rumo a luta teria, mas nenhuma das duas estava pronta para o que aconteceu.

    Ele abaixou a guarda e Raiva de tão surpresa não conseguiu aproveitar a oportunidade, até que ele falou:

    - Venha. Me ataque se é isso que você quer tanto. Para mim a luta acabou.

    E colocou as mãos para trás mostrando que não reagiria. Raiva esperou por um momento, e somente por um momento, para que ele reconsiderasse, mas isso não aconteceu e ela atacou.

    Seu primeiro soco o acertou no rosto e o arremessou para trás. Ele rolou e se colocou de pé rapidamente para receber mais um soco, dessa vez no estômago que fez com que se curvasse. Antes que pudesse se levantar de novo o pé de sua algoz encontrou suas costas e ele encostou o peito no chão para receber uma sequência de chutes.

    Amanda estava desesperada não conseguia pensar em nada, não entendia por que seu amigo e defensor estava fazendo isso. Conseguiu dar um passo em frente e começaria a correr para ajuda-lo, mas parou quando algo aconteceu. Raiva parou de atacar e Guy pode se levantar, com algum esforço dessa vez, mas ainda estava inteiro. Com isso a garota parou e observou e finalmente entendeu o que ele estava fazendo.

    A Raiva, por sua vez, não conseguia compreender. Arfava pelo esforço, sua mente trabalhava loucamente, mas só surgiam dúvidas. Acertou mais alguns socos em Guy fazendo com que ele recuasse mais alguns passos, mas ele continuou parado. Por que ele não se defendia? Por que ele não revidava? Era somente de violência e hostilidade que a raiva entendia, para ela a atitude dele era completamente sem sentido. Acertou mais um chute e o derrubou no chão, subiu em cima dele e começou a dar vários socos em seu rosto que não encontravam resistência e o queimavam quando o atingiam. Nesse momento ela finalmente falou:

    - Por quê? Por que não reage?

    Com as palavras vieram as lágrimas que em sua pele quente começavam a evaporar no meio do caminho até seu queixo e nunca chegavam ao chão. Em um dos socos sentiu que algo prendia seu braço e parou. Quando olhou para trás viu que era Amanda com uma expressão tranquila, porém um pouco triste.

    - Acabou. Acabou a luta, não há mais motivo para brigar.

    E Raiva nesse momento encontrou a iluminação. Nesse momento ela conseguiu entender. A raiva havia passado. Aos poucos ela foi se desfazendo e se tornando cinzas que eram levadas pelo vento antes que pudessem tocar o solo. Antes que ela desaparecesse por completo murmurou:

    - Obrigado.

    E então a raiva havia passado e os dois estavam sozinhos mais uma vez.


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