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[poesia] amor de abril

28 abril 2010

mais que um amigo
mais que um irmão
aquele a quem eu me dedico
aquele que me oferece compriensão
aquele que me ouve
aquele que me entende
é para ele que eu vivo
ele sempre me surpriende









[poesia] sentidos

27 abril 2010

andando eu posso ver
vendo eu posso ouvir
ouvindo eu posso sentir
sentido eu posso perceber
que você está dentro de mim

[poesia] esperança

As lágrimas que chorei
Ao choro que calei
Aos dias que sofri
As noites que clamei
Por tudo que sofri
A Deus peço dias e dias
Para não te ver partir
Salve me com seu canto
de esperança
eu que ainda sou uma criança
e anseio por teu voto de amor
traga me como se
fosse ainda tempo
a juventude e o frescor das rosas
pois no meu peito
há apenas dor

[Conto] Irmãos - Prólogo - Nas Sombras

25 abril 2010

Irmãos
Prólogo


Aguardei pacientemente em frente a casa do deputado. Desde cedo aquela chuva não parava, mas afinal naquela cidade ela raramente parava. Me envolvi melhor em meu sobretudo e me encolhi em meu esconderijo, dessa forma evitava o frio e me escondia melhor para que não fosse visto da rua. Olhei o relógio e descobri que estava próximo do horário do criminoso aparecer, todos os indícios estavam lá, ele viria eu tinha certeza. A chuva seguia firme enquanto eu imaginava qual seria o desfecho da minha tocaia, nesse momento ouvi dois tiros sendo disparados de dentro da casa. Gritaria dentro da casa e no rádio. Meu camaradas não sabem o que aconteceu e na verdade eu também não. Como teria ele passado por todos nós? Nesse instante percebo um vulto pular o muro e correr em direção a um beco, suas passadas espirrando água por todos os lados enquanto se afastava.

- Suspeito saindo pelos fundos da casa. Iniciando perseguição.

Não pude ouvir a resposta, pois já estava longe e encharcado. Entrei no beco e pude ver o suspeito espirrar água enquanto virava correndo para a esquerda. Naquela direção provavelmente tentaria chegar ao terminal rodoviário e sumir em algum ônibus para qualquer lugar longe da cena do crime. Tentei correr mais rápido, mas com as roupas encharcadas não obtive grande sucesso. Virei e pude ver que se não fizesse algo ele escaparia, estava sem idéias e isso não era nada bom. Ele olhou para trás e pude perceber que ele usava uma máscara de hóquei, nesse momento eu atirei visando sua perna direita. Ele se jogou e fez um rolamento para a esquerda, aparentemente se livrando do disparo e entrando em um beco. Com o tempo perdido durante a manobra eu consegui encurtar a distância entre nós e virar no beco logo atrás dele.

Assim que entrei percebi que era sem saída, mas ele continuava a correr em frente. A água espirrava e escorria tingida de vermelho, ele havia sido ferido. Do lado esquerdo do beco, parcialmente encoberta nas sombras, se escondia uma escada de emergência e ela era a última esperança do fugitivo. Percebendo isso não tive dúvidas e saltei em sua direção para tentar agarrá-lo. Consegui e ele se desequilibrou para frente. Ele percebeu que iríamos cair e tentou uma cotovelada para se livrar de meus braços. Seu cotovelo encontrou o meu rosto e o sangue espirrou e foi rapidamente diluído pela água, mas mesmo assim não o larguei, caímos juntos. Ele foi de peito no chão e sua máscara saiu de seu rosto deslizando até a parede do beco.

Me levantei e apontei a arma para suas costas enquanto ele também se levantava. Não escaparia dessa vez, estava sem saída.

- Vire-se para cá!

Ele obedeceu calma e silenciosamente. Me arrependi no momento em que pude ver seu rosto.

- Irmão!

Um sorriso saiu de seus lábios, mas não havia nenhuma felicidade nele.

Pude ouvir passos se aproximando correndo. A chamada no rádio. O reforço.

- Suma daqui! Rápido!

O sorriso sumiu de seu rosto e ele concordou com um sinal de cabeça. Rapidamente pegou a máscara.

- Nos vemos depois policial.

Subiu pela escada e rapidamente alcançou o topo do prédio desaparecendo de vista. Os policiais não tardaram muito a chegar e se espantar com todo aquele sangue que escorria de meu supercílio. Falei que o suspeito havia se desvencilhado de mim e saído do beco, eles continuaram a perseguição e não encontraram nada. Não posso dizer que fiquei surpreso.

Fui aconselhado a ir ao médico para "dar uma olhada no ferimento", mas nesse momento isso poderia aguardar. Precisava falar com alguém. Precisava falar com meu querido irmão.

Seguinte

[Aviso] Recados

24 abril 2010

Olá a todos.

Estou aqui para alguns recados, mas antes uma dica:

Dica:

A panini lançou a edição definitiva do Sandman (volume 1 com pouco mais de 600 páginas). Já garanti o meu via fnac online. Sugiro correr e comprar logo antes que acabe e bons sonhos. ^^

Agora os recados:

1. A senhorita Pauline vai começar (já começou) a postar poesias por aqui, muito bom né? Acredito que ela deva postar uma por dia (espero eu).

2. Foram feitas algumas mudanças no layout (nada de mais) e com isso foi adicionada a "frase do momento" que vai mudar com o tempo, mas não se preocupe haverá uma lista com elas por aqui.

3. Algumas atualizações em Amanda, nada que altere a estória, apenas algumas palavras repetidas, erros de digitação e partes que podiam ser narradas melhor, mas coisa muito pequena mesmo. Acredito que todos os capítulos sofreram pequenas modificações.

4. Amanda não terminou ainda, mas como essa parte inicial acabou vou começar outra estória que pretendo postar o mais rápido que eu puder escrever (vão começar as provas e vou ficar meio enrolado), estou inclinado a dar o nome "Nas sombras", mas isso pode mudar.

5. E por último gostaria de fazer tipo o nerd escritor e publicar coisas de outros autores (já que eu demoro um pouco para escrever), se houver interessados claro. Qualquer coisa fica o meu e-mail: semnickzin@gmail.com

Obrigado a todos e no mais nada mais.

[poesia] você chegou

23 abril 2010

me sinto tão amada isso faz bem.........
o coração da gente quando tem ............
alguém para dividir um grande amor.........
como brisa da manha assim você chegou......

[poesia] princeso

meu coração se alegra
com o seu sorriso e se entrega
sem medo se amargas sem temor
é mais que sentimento
é pressentimento
o que eu sinto por ti
meu anjo é amor

[Frases] pensamentos

O tempo é relativo quando se está longe de quem ama um segundo é uma eternidade e quando se estar perto a eternidade passa em um segundo.

[Frases]

o respeito é uma estrada de mão dupla.

[poesia] amor

22 abril 2010

amor é um meio de transformação........
é mais que doçura é perfeição...........
é se entregar..........
é se encontrar...........
é esperar..............
é se espelhar...........

[conto] Amanda VI (final)

17 abril 2010





Parte VI
(final)






6.1 Despedida






    Amanda se aproximou de Guy para verificar o seu estado. Em seu rosto havia várias queimaduras e escorria sangue do nariz que parecia estar quebrado. A roupa estava queimada em vários pontos, deixando visíveis hematomas em diversos pontos. A garota ficou preocupada com o estado do amigo, se sentou ao lado dele, apoiou as mãos em seu peito, fechou os olhos e se concentrou em sua melhora.



    - Obrigado senhorita. Você evoluiu muito durante o nosso caminho. Onde será que eu estava para não perceber?



    - Você esteve do meu lado o tempo todo. Muito obrigada, por tudo Guy.



    - Mesmo que não possa me ver, mesmo que eu não possa mais te responder eu estarei sempre a seu lado. Agradeço por me conceder essa honra senhorita.



    - Tenho certeza que ninguém seria melhor que você.



    Dizendo isso os dois se abraçaram longamente e por fim se beijaram. Quando se separaram se sentiram mais felizes do que jamais estiveram. Guy acariciou o rosto de Amanda e falou.



    - Infelizmente senhorita é chegada a hora do despertar.



    - Sim, cavalheiro.



    Dizendo isso colocou a mão no frasco com a memória de Guy e fechou os olhos. Quando os abriu novamente estava em seu quarto e ele não estava mais lá.






6.2 O Despertar






    Amanda se levantou completamente desperta. A tristeza da noite anterior se fora e tudo que a garota podia pensar era no estranho sonho que acabara de ter. Circulou pelo quarto e pousou os olhos em Guy, que a olhou de volta. A garota caminhou até ele, pegou o boneco em seus braços, se sentou na janela e ficou observando a rua enquanto pensava. De repente passou a mão pelo pescoço e pode sentir uma corrente que não estava lá quando fora dormir. Quando a puxou para ver reconheceu imediatamente o que era: o frasco com a memória de Guy. Teve certeza nesse momento que o sonho, por assim dizer, não fora apenas um sonho, tudo havia sido real, o que explicava a tranquilidade que sentia quando acordou.

    Abriu o frasco o mais rápido que pode e a memória saiu de dentro dele sem esforço ou dificuldade. A pegou na mão e assim que entrou em contato com a pele de Amanda ela se desfez e a garota pode visualizar tudo o que Guy passara na Cidade entre Mundos. Era incrível, mais até do que ele falara para ela. Cada Parte da cidade em um mundo, estava em vários mundos ao mesmo tempo, ao passo que nunca esteve em nenhum. Realmente era mágica.

    A garota ficou sentada abraçando o boneco e olhando a rua sem realmente ver o que se passava por lá. Estava perdida em pensamentos que voavam e alcançavam mundos distantes. Sentia falta de Guy. Assim a tarde passou e a noite foi chegando até que já era a hora de ir para a cama novamente. Ela sabia que não poderia ser assim no dia seguinte também, Guy sempre estaria com ela, mesmo que não pudessem conversar.

    Foi dormir e sabia que quando acordasse no outro dia não poderia continuar com aquele sentimento saudosista, teria de continuar a viver a vida, Guy viera até ela para a ensinar isso e não gostaria que ficasse triste daquela forma, precisava seguir em frente.

    Seguir em frente, essa era a idéia que dominava seus pensamentos quando fechou os olhos para dormir.






6.3 Seguindo em Frente





    Abriu os olhos e uma idéia pulou em sua mente. Seguir em frente. Era isso que precisava fazer e era exatamente isso que faria. Não tinha dúvidas de que podia fazer isso depois de tudo que passara, era capaz de tudo enquanto Guy estivesse do seu lado e ele estaria sempre a seu lado.


    Antes de fazer qualquer coisa se sentou na mesa do computador, o ligou e abriu o editor de texto. Escreveu o resto da manhã e na primeira linha se lia: "Guy e a Cidade entre Mundos". Era sua homenagem a ele por tudo que havia feito por ela.



    Depois disso não perdeu mais tempo chorando ou sentindo falta dele, mas sim recordando os bons momentos que tiveram juntos. Não tinha dúvidas de que momentos difíceis viriam, um dia os problemas a encontrariam, mas estava disposta a supera-los, sabia que seria capaz, nunca se abateria ou perderia a esperança de novo. Sabia também que momentos bons estavam por vir e Amanda aguardaria que chegassem em contida ansiedade, afinal não tentaria forçar a vida a seguir sua ordem natural, mas sim caminharia junto com ela.



    Sim. Estava seguindo em frente.







FIM

[conto] Amanda V

Amanda




Parte V




5.1 Lago Fervente





    A paisagem fora da caverna era incrível. Única. Um vulcão dominava a paisagem e ao redor a lava solidificada dominava o terreno, se estendendo da saída da caverna e subindo em camadas que pareciam formar degraus até o topo da montanha, onde se via o pináculo do vulcão. Isso já seria o suficiente para a paisagem ser anormal, mas não era isso que a tornava única. No vulcão havia uma nascente e a água ia descendo pelas fendas na lava esculpindo-a e se acumulando em algumas que já haviam sido transformadas em piscinas naturais, umas pequenas e outras tão grandes que pareciam lagos. Toda essa água era aquecida pelo calor do vulcão, envolvendo a paisagem toda em vapor. Amanda só pensava em uma palavra: única.



    - É tão lindo.



    - Verdade senhorita, mas não se deixe enganar até o lugar mais belo esconde seus perigos.



    Amanda não gostou do tom de Guy, parecia preocupado, mas estavam juntos e terminariam tudo aquilo. Não tinha mais medo, vencera essa etapa.



    Os dois foram subindo a montanha na direção do maior lago que puderam ver. Os degraus naturais eram bem largos e pouco íngremes, facilitando bastante a subida. Caminharam em silêncio e de mãos dadas durante todo o percurso, Guy estava pensando em algo e Amanda sentiu isso, alguma coisa não estava tão bem. Até que quando chegaram na beira do lago ele falou.



    - Senhorita. Essa é a última encarnação que precisamos superar e após ela você vai acordar. Gostaria que você entendesse que se eu não estiver do seu lado é porque meu tempo em seu mundo acabou e eu tive de voltar para casa.



    - Por isso você está triste. Você não pode voltar comigo?



    Enquanto Amanda falava ela foi chegando perto de Guy e o abraçou. Estava triste também, queria Guy ao seu lado, não podia deixa-lo partir.



    - Não sei exatamente como funciona, essas coisas são complicadas, mas não podia esconder essa possibilidade de você. Não podia correr o risco de te decepcionar. Em todo o caso vou te dar um presente de despedida senhorita, não achei que seria assim, mas não haverá situação melhor tenho certeza.



    Guy retirou do pescoço um cordão que possuía um frasco pendurado. Envolveu o frasco com a mão e começou a se concentrar e quando terminou 
o recipiente estava cheio com um líquido prateado.


    - O que é isso?



    - Um frasco de memória. Ele é especialmente feito para que se coloque uma memória dentro dele. Coloquei aqui minha memória da cidade entre mundos que a senhorita gostou tanto. Quando o sonho terminar segure o frasco e despertará com ele em sua mão.



    E dizendo isso colocou o cordão em volta do pescoço de Amanda. Nesse momento os dois se beijaram, eles não saberiam dizer quem tomara a iniciativa, mas no fundo isso não importava. Foi como se aquele momento passasse em câmera lenta, ao mesmo tempo em que passou rápido demais, foi como mágica ou como um sonho. Por Amanda esse momento duraria para sempre, mas ele teve fim quando Guy se afastou dela.



    - Ela vem vindo senhorita. Se prepare para nosso desafio derradeiro.



    Ao entender o que estava para acontecer a garota se posicionou logo atrás de Guy e rezou pelo melhor para os dois. Nesse momento surgiu um pilar de fogo na frente dos dois alguns metros a frente, as labaredas subiram muito acima de suas cabeças, de uma maneira impetuosa e com isso formou-se uma cortina de névoa muito densa, feita pela água que era rapidamente fervida. Primeiro Amanda achou que fosse o próprio vulcão, mas conforme o fogo foi diminuindo ela pode ver uma sombra no meio dele e então teve certeza do que era aquilo.



    O fogo continuou a diminuir até sumir e a encarnação se revelar. Era Amanda, como esperado, mas possuía cabelos de fogo e vapor saía de sua pele como água em contato com uma chapa muito quente. Sua expressão fechada dizia tudo e a partir dela Guy adivinhou seu nome.



    -Raiva...



    Foi tudo o que teve tempo de dizer. Assim que tentou continuar a falar Raiva partiu em sua direção e acertou um soco bem em cheio no seu rosto o derrubando no processo. Guy sentiu a pele esquentar e quase queimar no local onde fora atingido, isso não era nada bom. Não satisfeita com o soco ela criou uma espada feita de chamas e tentou um golpe na vertical, Guy no chão percebeu o que estava acontecendo, sacou sua espada e aparou o golpe. Sentiu-se feliz ao perceber que a espada de fogo da Raiva não atravessava a sua como pensara que pudesse acontecer, nesse momento entendeu que a espada não era feita somente de fogo como achara a princípio.



    - Vejo que não haverá conversa. Então deixarei que minha arma fale por mim.



    Dizendo isso ele empurrou a espada da Raiva com a sua para longe de seu rosto, lugar que fora visado pelo golpe, e se levantou com um salto. Com isso teve início o duelo.





5.2 Duelo de Espadas





    Raiva atacava incessantemente, com golpes verticais e horizontais, sempre visando partes do corpo que podiam Guy fora de ação com um único ataque bem sucedido. Guy por sua vez apenas defendia e esquivava, sua técnica com a espada era invejável. Lutava com as costas retas e o olhar fixo no oponente, mas alguma coisa em seu olhar preocupava Amanda, após algum tempo pensando ela compreendeu. Ele esperava resolver as coisas sem precisar chegar a esse ponto, em momento nenhum pretendera efetivamente lutar contra alguém que fosse praticamente gêmea de Amanda. A garota ficou nervosa e pensou em ajudar, mas então compreendeu a estratégia de seu defensor: cada movimento dele era feito com a intenção de mante-la protegida atrás dele, impedindo o avanço de Raiva sobre ela.



    Os golpes da Raiva não possuíam foco, eram distribuídos agressivamente em todas as partes do corpo de Guy, mas para isso ela sacrificava sua precisão e o elemento surpresa, pois seus ataques eram sempre diretos. Ela estava sacrificando tudo isso em prol de golpes mais fortes e contínuos, apesar dessa estratégia facilitar que o oponente apare ou se esquive ela também cansa mais os lutadores. Raiva estava confiante que Guy perderia o fôlego antes dela.



    Ela tentou um golpe horizontal que foi defendido por Guy, mas sua força, combinada com o cansaço do cavaleiro, conspiraram para que a espada dele saísse da mão voando e atingindo o chão ruidosamente. Isso seria um problema. Raiva tentou finalizar a luta com um ataque diagonal que tinha como alvo o ombro esquerdo de Guy, porém ele conseguiu se abaixar e rolar em direção a sua própria espada, fazendo a espada da Raiva zunir no vazio.



    Ele recuperou sua arma e tentou se por em guarda, mas sua oponente se aproximou dele com um salto, ao mesmo tempo que desferiu um golpe vertical. Com um movimento rápido ele passou sua espada pela da Raiva e a empurrou para cima, o efeito foi a espada de Raiva voar de sua mão e cair fincada no chão alguns metros atrás de Guy. Nesse instante ela recuou alguns passos para sair do alcance dele, no seu rosto podia ser identificada uma certa surpresa, nunca fora desafiada daquela forma.



    - Minha honra me impede de lutar em condições superiores - dizendo isso ele arremessou sua espada para longe - Lutaremos com as mãos limpas.



    Raiva pareceu não se importar e avançou na direção de seu oponente com a mesma determinação de antes.





5.3 Acabou a Luta





    Ela fez chover uma tempestade de socos e chutes sobre Guy, enquanto ele defendia alguns e se esquivava de outros. Cada golpe que passava por ele deixava um rastro de fogo atrás de si tamanha a violência e velocidade. Conforme a luta passava ele notou que os golpes de Raiva estavam começando a queimar suas mãos e pernas, isso não era bom.



    Amanda percebeu que o olhar de Guy mudara desde que conseguira desarmar sua adversária. Parecia mais tranquilo e confiante do que antes, agora sim parecia o Guy que ela conhecia, aquele que estava lá para ajuda-la nas piores situações. Ela finalmente compreendeu que a preocupação se devia ao medo de machucar Raiva e agora com as mãos nuas esse risco havia desaparecido. Chegou até a imaginar a possibilidade de que ele tivesse conduzido a luta até aquele ponto propositalmente, cada passo, cada golpe e cada esquiva, até mesmo a perda de sua própria espada. Se isso fosse verdade o que ele teria em mente agora?



    Raiva avançou com um direto de esquerda e Guy em resposta se desviou e deu um passo em direção a ela, encurtando a distância, e rapidamente a empurrou, a obrigando a recuar alguns passos. O golpe a pegou desprevenida o que causou hesitação no ataque seguinte. As duas aguardavam o próximo movimento de Guy para saber qual rumo a luta teria, mas nenhuma das duas estava pronta para o que aconteceu.

    Ele abaixou a guarda e Raiva de tão surpresa não conseguiu aproveitar a oportunidade, até que ele falou:

    - Venha. Me ataque se é isso que você quer tanto. Para mim a luta acabou.

    E colocou as mãos para trás mostrando que não reagiria. Raiva esperou por um momento, e somente por um momento, para que ele reconsiderasse, mas isso não aconteceu e ela atacou.

    Seu primeiro soco o acertou no rosto e o arremessou para trás. Ele rolou e se colocou de pé rapidamente para receber mais um soco, dessa vez no estômago que fez com que se curvasse. Antes que pudesse se levantar de novo o pé de sua algoz encontrou suas costas e ele encostou o peito no chão para receber uma sequência de chutes.

    Amanda estava desesperada não conseguia pensar em nada, não entendia por que seu amigo e defensor estava fazendo isso. Conseguiu dar um passo em frente e começaria a correr para ajuda-lo, mas parou quando algo aconteceu. Raiva parou de atacar e Guy pode se levantar, com algum esforço dessa vez, mas ainda estava inteiro. Com isso a garota parou e observou e finalmente entendeu o que ele estava fazendo.

    A Raiva, por sua vez, não conseguia compreender. Arfava pelo esforço, sua mente trabalhava loucamente, mas só surgiam dúvidas. Acertou mais alguns socos em Guy fazendo com que ele recuasse mais alguns passos, mas ele continuou parado. Por que ele não se defendia? Por que ele não revidava? Era somente de violência e hostilidade que a raiva entendia, para ela a atitude dele era completamente sem sentido. Acertou mais um chute e o derrubou no chão, subiu em cima dele e começou a dar vários socos em seu rosto que não encontravam resistência e o queimavam quando o atingiam. Nesse momento ela finalmente falou:

    - Por quê? Por que não reage?

    Com as palavras vieram as lágrimas que em sua pele quente começavam a evaporar no meio do caminho até seu queixo e nunca chegavam ao chão. Em um dos socos sentiu que algo prendia seu braço e parou. Quando olhou para trás viu que era Amanda com uma expressão tranquila, porém um pouco triste.

    - Acabou. Acabou a luta, não há mais motivo para brigar.

    E Raiva nesse momento encontrou a iluminação. Nesse momento ela conseguiu entender. A raiva havia passado. Aos poucos ela foi se desfazendo e se tornando cinzas que eram levadas pelo vento antes que pudessem tocar o solo. Antes que ela desaparecesse por completo murmurou:

    - Obrigado.

    E então a raiva havia passado e os dois estavam sozinhos mais uma vez.


[conto] Amanda IV

Amanda

Parte IV



4.1 Caminhando




    Guy e Amanda não tiveram pressa para deixar o jardim, foram caminhando lentamente apreciando as flores e conversando sobre tudo o que não tiveram tempo de falar antes. Guy contou estórias sobre outros mundos e seus habitantes, sobre a altiva feiticeira branca e o poder que ele sentiu emanar dela, sobre sua viagem e a Cidade entre Mundos. Não apressaram os problemas, pois eles nos alcançam naturalmente e cedo ou tarde eles alcançariam Guy e Amanda.

    Amanda por sua vez contou muitas estórias sobre sua vida e suas decepções, suas tristezas e incertezas, sobre as vezes em que foi abandonada e as que foi obrigada a abandonar outros. Guy conhecia todas essas estórias, ouvira nas tardes e noites que passara sozinho com Amanda, mas de maneira alguma a interrompeu, sentiu prazer em ouvir tudo de novo, sem interromper ou se desinteressar.

    Tudo tem um fim. Isso é um fato. O jardim encontrou seu fim e deu lugar a uma floresta. Guy falou que era a floresta do sub-consciente, era misteriosa, Amanda considerou-a um pouco sombria, mas com Guy ela iria a qualquer lugar. Após alguns passos floresta a dentro Guy parou e encarou Amanda por alguns segundos antes de começar a falar:

    - Senhorita nessa floresta se escondem todas as coisas que você gostaria de esquecer. Todas as coisas que você enterrou o mais fundo que pode para que nunca mais precisasse encara-las, mas essas coisas mesmo nas profundezas ainda estão atuando sobre você e sem que perceba sugando sua força. Gostaria de sua ajuda para impedir que isso continue acontecendo.

    Amanda o encarou com um leve sorriso. Era impossível ficar triste em sua presença.

    - Se você estiver comigo eu posso ir a qualquer lugar Guy.

    - Estarei com a senhorita o tempo todo. Nunca duvide disso. Mesmo no momento mais escuro procure por mim que eu estarei a seu lado. Agora temos de continuar caminhando.

    Agora a garota entendia porque aquela floresta lhe parecia sombria, sob suas raízes estavam enterradas todas as coisas que ela se esforçara o máximo para esquecer. No fim os problemas acabam nos encontrando e eles estavam prestes a encontrar Amanda e Guy e quanto a isso não havia o que pudesse ser feito além de enfrentá-los.

    Conforme caminhavam a floresta foi ficando mais escura e enevoada, aumentando ainda mais a sombra que pairava sobre o coração da garota. Quando se encontravam no meio da floresta e não havia mais volta os sussurros começaram.

    Como ela é feia.


    Ele não te ama.


    Quem é ela?


    Não sei. Quem liga?


    Eu te odeio!


    Sai daqui!


    Ele me deixou!

    Não eram sussurros. Era mais como ecos que chegavam de muito longe. Sons que viam de um passado muito distante e esquecido para trazer de volta lembranças que não deveriam jamais ser lembradas. Foi nesse momento, em que as coisas não poderiam piorar, que os ecos pararam e com o súbito silêncio pode-se ouvir o choro de Amanda que acompanhava as lágrimas que saiam de seus olhos e escorriam por seu rosto.

    Guy limpou o seu rosto e a indicou o caminho a frente deles. Era uma caverna. Uma caverna em que nenhuma luz penetrava e que qualquer passo que fosse dado para dentro dela já significaria caminhar em completa escuridão. Amanda teve medo disso e imaginou que tipo de pesadelo se esconderia lá dentro. O medo aumentou, cresceu de maneira inexplicável e a paralisou. Quando pensou que não conseguiria sair do lugar Guy tocou seu ombro e ela sentiu um calor invadir seu corpo e teve forças para continuar.

    - Senhorita. Por mais que a escuridão se estenda no caminho a nossa frente, temos de enfrenta-la para que possamos acordar nos sentido melhores do que quando fomos nos deitar.

    Dizendo isso ele segurou a mão de Amanda, deu um passo na escuridão e Amanda o acompanhou.

    Cedo ou tarde os problemas sempre nos acham.





4.2 Nas Cavernas da Escuridão





    No interior da caverna a escuridão era total, Amanda não podia nem ver por onde haviam acabado de entrar. O ar era viciado, como se fosse mais pesado do que do lado de fora, respirar dentro daquelas cavernas requeria esforço, como se não fosse algo natural. A cada passo a sensação ficava pior e o medo começava a nascer em seus corações. A vontade de Amanda era de voltar, mas Guy segurava sua mão e era somente por causa disso que ela ainda conseguia seguir em frente.
    Conforme o tempo passou, e naquele lugar seria impossível dizer quanto tempo foi, as coisas foram piorando. Quando o ar parecia sólido e um esforço imenso era necessário para empurra-lo em direção ao pulmão, quando a escuridão já era quase palpável ao redor dos dois, quando Amanda começou a se esforçar para não pensar em nada, nesse momento eles puderam ver olhos se abrirem e brilharem ao seu redor. Olhos vermelhos que os circundavam e desapareciam, somente para surgir em algum lugar diferente, às vezes mais perto e por vezes mais longe. Seu brilho era agressivo, a hostilidade era evidente e Amanda não sabia porque não atacavam. A garota tentou fechar os olhos, mas ainda podia ve-los por trás das pálpebras.

    - Não olhe senhorita. Tudo dará certo, eu estou aqui e nada será capaz de mudar isso.

    Isso a acalmou, mas mesmo assim ela não foi capaz de responder. Estava com muito medo, tanto medo que aparentemente parte de seu cérebro havia sido paralisado. A parte responsável pela fala certamente estava inoperante.

    Rapidamente recomeçaram os sussurros. Ecos na verdade. Ecos das lembranças que Amanda enterrara em seu sub-consciente. Vinham de várias direções, cada qual com sua lembrança amarga, cada qual uma punhalada mais dolorosa que a anterior. Amanda não aguentaria por muito mais tempo, estava apavorada, apavorada demais, não pode mais continuar a caminhada. Parou onde estava, o medo tomando conta de cada parte de seu corpo.

    - Vamos, falta pouco agora Amanda. Estou aqui a seu lado.

    Dessa vez a voz de Guy não teve o mesmo efeito, conseguindo apenas fazer com que o medo parasse de aumentar ao invés de acalma-la. Nesse momento a garota pensou o que faria se Guy não estivesse com ela, se não pudesse sentir a sua mão tocando na dela.

    Assim que esse pensamento tomou forma em sua mente ela sentiu o toque de Guy desaparecer e não pode mais sentir a sua presença lhe dando forças para continuar.

    - Guy!

    Nesse instante uma risada ecoou por todo o lugar. Começou longe e alegre, mas foi gradualmente ficando mais próxima e histérica. Não era uma pessoa normal que emitia aquele som. Era carregado de prazer, uma alegria incontrolável, que alguém que tivesse alguma compaixão dentro de si não sentiria em uma situação tão assustadora.

    Amanda não conseguia mais suportar aquela gargalhada insana. Agredia seus ouvidos e afrontava toda sua lógica. Como poderia existir alguém tão cruel? Nesse momento a risada parou, mas o silêncio não melhorou o estado de Amanda, os olhos que a rodeavam se fecharam, trazendo de volta a escuridão total que certamente não era uma boa companheira. Então de algum lugar na escuridão veio uma voz, uma voz que chegava até Amanda carregada de hostilidade.

    - Como você se meteu nessa situação mocinha? Sozinha no escuro?

    Era como se cada palavra, cada sílaba, cada fonema chegasse carregada de vontade de agredir a garota, fosse quem fosse queria intimidar e amedrontar e sabia muito bem como fazer isso. Sem esperar por resposta a voz continuou.

    - Eu sou o Medo minha querida. Esse aqui é o meu reino, nele estão enterrados seus maiores temores, suas maiores decepções, suas lembranças mais temidas. Até hoje cuidei para que nenhuma dessas lembranças deixassem esse lugar. Já você minha querida, quando deixar este lugar. - e nesse momento fez uma pausa - Não será da mesma maneira que entrou.

    Quando terminou de falar ele voltou a rir, primeiro baixinho, mas foi aumentando aos poucos até voltar a ser a gargalhada de antes.





4.3 Todos os seus Medos




    Às vezes é preciso dar dois passos para trás para conseguir dar um passo para frente. Amanda ficaria feliz em conseguir dar um passo para qualquer lado nesse momento, mas estava paralisada, atada pelas correntes do medo. Medo. Era somente isso que ela conseguia sentir nesse momento e parecia que era só isso que conseguiria sentir o resto da vida. Se era um sonho, por que não acordava? Suas esperanças estavam sumindo, se apagando lentamente. Onde estaria Guy? Ele jamais a abandonaria, mas até isso estava se perdendo.

    Logo após capturar Amanda o Medo começou um processo de tortura que parecia diverti-lo muito. Lembrança por lembrança ele mostrou para ela todos os momentos que ela um dia desejou esquecer. Aparentemente ele não esquecera nenhum e ainda foi fazendo pausas e comentários nas que julgou mais importante.

    - Pai e mãe separados. Observe as costas de seu pai se afastando quando você era pequena. Imagino que nunca suspeitou que ele não voltaria.

    - O primeiro fora. Adoro essa, sinceramente uma das minhas lembranças preferidas.

    - Assaltada no ônibus, quem diria, era apenas um garoto, mas foi seu primeiro contato com a violência. Gosto muito dessa.

    - O medo da perda. Foi chutada pelo namoradinho. Sabe apesar de ser a mais recente ela é muito importante, já que desencadeou tudo isso. Claro que esse fato apenas terminou com seu fraco equilíbrio emocional nos proporcionando esse belo momento juntos.

    Depois de muitas lembranças ruins Medo fez uma pausa dramática apenas para saborear o momento que estava por vir, já que ele guardava uma lembrança que considerava especial.

    A lembrança era Amanda trancada no escuro, se prendera sem querer no armário e ficou lá até ser encontrada por sua mãe. Aquilo era o que Medo mais gostava. O medo irracional do escuro. Quase uma fobia que a garota ocultava dentro dela durante a maior parte de sua vida. Essa lembrança mais que todas as outras o dava forças.

    - O que é isso? Uma garotinha tão corajosa com medo do escuro? Desculpe minha indelicadeza de ter mudado a cronologia, mas eu tive de deixar minha preferida para o final. O que acha de relembrar aqueles momentos no escuro de novo? E de novo e de novo até eu me cansar?

    Medo estava quase pulando de alegria. Adorava aquilo, adorava assustar e intimidar as pessoas.

    Amanda não podia mais aguentar. Fechou os olhos na escuridão e uma lágrima escorreu quando pensou que estava abandonando Guy, mas ele a tinha abandonado, não é? A deixara no escuro com aquele maníaco torturador. Não podia mais aguentar. Não queria mais aguentar. Sua parte consciente se desprendeu de tudo aquilo e ela pode sentir o torpor dominar seu corpo, aquilo foi um alívio. Iria ela finalmente acordar? Não importava mais, nada disso importava mais.





4.4 Vamos Continuar sem Medo




    Amanda abriu os olhos e pode ver o sol. Olhou com mais atenção e viu que não era o sol, estava muito perto dela para isso. Era algo brilhante, dourado e estava logo ao seu lado. Ela levantou-se e virou para ver melhor e se assustou ao se deparar com ela mesma, mas não era um espelho e também não era Tristeza. Na verdade Amanda nunca se vira tão bela e confiante. Seria essa a face do Medo? Impossível. Não estava mais na caverna do Medo, estava em algum outro lugar, estava em uma casa, mas não sabia como fora parar ali.

    A encarnação sorriu para ela, o sorriso mais lindo que ela já vira na face de qualquer pessoa. Definitivamente não era o Medo, não estava tentando amedrontar-la, a encarnação parecia emanar a mesma energia que Guy, apenas com algumas diferenças sutis que só Amanda reconheceria.

    - O que está acontecendo? Eu estava na caverna quando desmaiei. Você me trouxe para cá?

    - Bom dia Amanda, eu me chamo Esperança e vou lhe contar tudo o que aconteceu. Venha sente-se, vamos conversar.

    Esperança então? Isso explicava tudo, ao mesmo tempo que criava várias outras dúvidas. Ela caminhou até a cadeira que Esperança apontava, sentou-se e ficou esperando com uma ansiedade contida até que a encarnação começasse a falar. E assim foram suas palavras quando falou:

    - Você sucumbiu ao medo, e sua consciência se desligou do sonho. Com isso o medo iria te dominar, mas eu te trouxe até aqui, o inconsciente, onde eu mesma estou refugiada. Como Guy já disse, você é muito forte e nossa força vem de você, mas aparentemente a senhorita andou investindo suas forças nos sentimentos errados, não é? - e fez uma covinha no canto da boca para ressaltar a brincadeira, realmente Amanda percebia que Esperança não se deixaria abater por nada - Não se preocupe com isso podemos dar um jeito em tudo, se demos força a eles podemos tomar de volta. - a expressão de Amanda mudou para a de leve curiosidade, afinal ela estava falando em "nós" e não em "você", a resposta de Esperança foi um grande sorriso e começou como que explicando algo óbvio - Vamos juntas. Eu vou dentro de você, jamais nos abateremos ou esmoreceremos frente as dificuldades, enquanto você depositar sua força em mim estarei ao seu lado.

    - Como assim você vai dentro de mim?

    - Apenas me abrace e me puxe de encontro ao seu peito.

    Amanda caminhou em direção a ela e a abraçou.

    - Amanda assim que voltarmos, procure por Guy e ele estará lá, o momento em que duvidamos disso foi o momento em que o perdemos. Agora vamos é hora de despertar para o sonho.

    Depois disso Amanda a puxou para junto de si e Esperança virou uma esfera de luz e essa esfera penetrou no corpo da garota. Nesse momento ela sentiu um calor se espalhar em seu corpo, do peito ele seguiu em ondas até chegar as pontas dos dedos. Se sentia forte. Confiante. Finalmente estava pronta. Era chegada a hora do despertar.




4.5 De Volta




    Amanda abriu os olhos. Não faria diferença se os tivesse deixados fechados. A garota sabia exatamente onde estava e sabia o que precisava ser feito e o faria. Venceria o Medo e sairia daquela caverna com Guy ao seu lado.

    Assim que voltou totalmente a si pode perceber as gargalhadas do Medo e os olhos hostis a rondando. Sabia que precisava agir rapidamente e assim o faria, Esperança estava com ela.

    - Chega!

    Ela gritou e os risos cessaram ao mesmo tempo em que os olhos sumiam. Amanda se libertou das correntes do medo e se levantou.

    - Não temo a escuridão e não temo você. - Medo se encolheu sob essas palavras - Guy está a meu lado! E nós sairemos dessa caverna para podermos seguir em frente.

    Ao termino de suas palavras ela viu Guy brilhar ao seu lado, era uma luz dourada e quente. Lá estava seu cavaleiro, a seu lado como sempre estivera, ela apenas não percebera isso.

    Com a luz que Guy emanava Amanda pode ver em volta. Não havia nada, era apenas uma caverna comum como qualquer outra, Medo que a fizera se transformar em um lugar de trevas. Olhando ao redor pode ver Medo e se surpreendeu quando percebeu que era ele. Ele era, como as outras encarnações, igual a Amanda, mas como quando Amanda tinha 8 anos. Era uma garotinha com um olhar assustado. Nesse momento Amanda sentiu pena de Medo e ele se desfez em fumaça. Amanda ficou parada ao lado de Guy, aproveitando a imensa felicidade que a inundava por dentro até que ele falou.

    - Senhorita devo dizer que estou extremamente orgulhoso, nunca duvidei em nenhum momento que conseguiria.

    E essas palavras aumentaram ainda mais a felicidade dela, se é que isso era possível. Então Guy tirou uma pedra do bolso e a estendeu para a garota. Ela viu que parecia ser de vidro, mas quando a pegou sentiu que se a jogasse no chão ela não se quebraria. Quando a envolveu com os dedos a pedra começou a emitir um brilho dourado muito forte, mas de uma maneira que não incomodava os olhos e com isso toda a caverna se iluminou.

    - Pronto, com isso o Medo jamais poderá voltar a se esconder aqui.

    E dizendo isso Guy sorriu e seu sorriso foi retribuído por um sorriso radiante de Amanda que o abraçou.

    - Guy você é o melhor amigo que eu poderia pedir.

    E assim ficaram abraçados. Não teriam pressa, ambos sabiam que não adiantava correr atrás dos problemas e sabiam também que quando eles aparecessem, poderiam resolver se estivessem juntos.

    Quando o tempo chegou deixaram a caverna e seguiram em frente mais unidos do que quando entraram.

     
     

[conto] Amanda III

04 abril 2010

Amanda

Parte III



3.1 O Jardim dos Sentimentos




Amanda abriu os olhos e contemplou o azul do céu, ela estava deitada no chão ao ar livre, mas não se lembrava de como havia chegado lá. Levantou-se lentamente e tentou descobrir onde estava. Era um imenso jardim de flores que se estendia até aonde Amanda podia ver. Ela não se lembrava daquele lugar, a não ser talvez em sonhos. Começou a andar pelo jardim observando as belas flores e as tocando com as mãos, como que para ter certeza que estavam ali. Tudo era tão real e vivo e belo, não parecia ser um sonho, mas era um sonho e Amanda sabia disso, sentia isso dentro dela.

Ela continuou a andar pelo jardim, a cada flor Amanda achava o jardim mais impressionante e a cada passo a beleza dele parecia se multiplicar. Caminhou até perder a noção do tempo, teriam sido alguns poucos segundos ou muitas horas? A garota não saberia responder essa pergunta.

Ela não se importaria de continuar sua caminhada eternamente ou até que despertasse novamente em sua cama e pudesse contar tudo a Guy, mas inesperadamente um vento soprou e isso fez com que o sonho mudasse. Uma nuvem parecia estar se deslocando e derramando sombras por onde passava. A garota não podia crer no que via. O tempo estivera claro e aberto a poucos segundos atrás. De onde teria vindo aquela nuvem tão macabra? Amanda não sabia dizer.

A nuvem foi se aproximando até que ela compreendeu. Não. Não era uma nuvem, mas sim a noite. A noite tomava lugar sobre o dia bem diante dos olhos dela. A noite estava caminhando lentamente sobre o jardim, mas de uma maneira que a menina nunca havia visto. Ela não estava gostando do que via, algo naquilo tinha um ar de macabro como se seu sonho estivesse se tornando um pesadelo, de maneira suave, porém obstinada tirando qualquer chance de reação por parte dela.

No limiar entre o dia e a noite vinha caminhando uma garota, Amanda não saiba quem era, mas teve um mau pressentimento. A garota caminhava em sua direção, lenta e decididamente e com ela trazia a noite e ao seu redor as plantas se fechavam, murchavam e por fim sumiam transformando todo o lugar em um grande deserto. Até que ela parou bem em frente à Amanda, que nesse momento não podia mais mover nada além dos olhos, que varriam o jardim em todas as direções a procura de suas queridas flores. Tudo agora era deserto. Tudo agora era noite. Amanda não conseguia se mexer.

O vento prosseguia e espalhava areia por todos os lados de uma maneira que antes não seria possível, pois a poucos minutos aquele lugar era um jardim. Amanda sentia o vento jogar areia em todo o seu corpo e ao que parecia estava começando a enterrar seus pés, mas a garota não olhou para eles. Amanda não conseguia se mexer.

Nesse momento quando seu desespero não poderia mais aumentar ela fixou o olhar na garota à sua frente. Ela usava um vestido todo preto que ia até os joelhos, era cheio de bordados e pedras pretas brilhantes e para completar estava descalça, fora isso a estranha garota era igual Amanda. Rosto, tamanho, cor da pele, olhos, tudo era idêntico. Eram gêmeas. Seria como se olhar em um espelho, não fosse pela expressão que trazia em seu rosto. Amanda a teria definido como a expressão mais triste que já vira alguém usar na vida, se conseguisse articular qualquer palavra, mas naquele momento seu cérebro parecia tentar entender o que se passava, sem obter qualquer sucesso.

Quando começou a voltar a si percebeu que algo emanava de sua gêmea, uma sensação ruim, como se a esperança estivesse sendo retirada a força de seu corpo e nunca mais fosse voltar, como se nunca mais fosse ser feliz novamente. Foi nesse momento que, para a surpresa de Amanda, a gêmea falou e sua fala era lenta, arrastada e cada palavra era carregada de um grande esforço:

- Oi Amanda. Eu sou a Tristeza.

Novamente a garota estava paralisada, os olhos fixos em Tristeza e aquela sensação ruim se apoderando dela.

Nesse momento Amanda desejou acordar.





3.2 Conversando com a Tristeza





- Desculpe. Onde quer que eu vá a noite me segue, não sei exatamente o que acontece. Acredito que tenha algo haver com meu estado de espírito. Por isso não posso ver a beleza do dia ou das flores ou mesmo das estrelas.

Não havia raiva ou mesmo amargura em sua voz, era apenas a constatação de um fato e tudo o que podia se perceber em sua voz era uma profunda tristeza. Amanda finalmente conseguiu se mexer apenas para olhar para o céu e para seu espanto realmente não havia estrelas nele,mas não estavam totalmente no escuro, o lugar fora tomado por uma luz estranha com um brilho etéreo e de alguma forma não natural o qual era impossível dizer de onde vinha. Isso não serviu para tranquiliza-la.

- Não fique assim. Caminhei até esse lugar apenas para ver você.

Amanda ainda em choque achou que deveria responder a pergunta e com isso começou a procurar a própria língua. Depois de alguns minutos ela conseguiu encontra-la.

- Me ver? Nós nem nos conhecemos.

- Claro que nos conhecemos. Eu sou você. Estive com você em todos os momentos tristes, fui sua única companheira.

- Não!

Amanda falou mais alto do que pretendia nesse momento. E continuou em tom normal.

- Guy foi meu único companheiro.

Tristeza olhou para ela com o que parecia ser pena e respondeu, embora Amanda não quisesse resposta alguma.

- Ele é apenas um boneco. Mas como pode ser nosso único amigo de verdade um brinquedo? Irônico eu diria. Ninguém estava lá conosco apenas nós duas. O que podemos fazer se ninguém gosta da gente de verdade?

A pergunta foi retórica, mas encontrou resposta em Amanda.

- Guy gosta de mim de verdade. Ele me ama e faria tudo por mim.

Tristeza estava com uma expressão de quem explica algo simples a uma criança de cinco anos, um olhar quase que maternal.

- Mocinha não insista nisso. Discussões como essa não nos levarão a lugar algum. Mas deve ser a perda do namorado. Realmente. Para seguirmos em frente você precisa entender que ninguém nos quer por perto. Para que assim possamos continuar. Sozinhas. Sem pessoas falsas. Ou pessoas imaginárias.

Nessa última frase Tristeza mudou o tom repetitivo e monótono para poder destacar o sarcasmo em sua voz, o que lhe pareceu exigir um grande esforço. Amanda sentiu-se triste por fazê-la se esforçar daquela maneira, mas isso provavelmente era efeito da aura que Tristeza transmitia ao ambiente. Sendo isso ou não ela não podia mais lutar, estava entregue. Para externar isso ao invés de concordar a menina caiu de joelhos no chão e isso bastou para Tristeza.

- Venha comigo Amanda. Vamos continuar juntas.

E dizendo isso estendeu a mão.

Amanda olhou da mão estendida para o rosto de sua gêmea e atrás dela viu uma luz. Uma luz de verdade quando acreditava estar tudo perdido. Tristeza se virou e quando a luz se aproximou as duas puderam ver quem caminhava na direção das duas.

Tristeza não alterou a expressão, mas a de Amanda passou de grande sofrimento para total e completa alegria e nesse momento as duas falaram juntas.

- Guy!

E Guy vinha na direção das gêmeas e brilhava e sorria. Estava feliz por perceber que Amanda, apesar de tudo, ainda estava bem e para ele isso bastava.





3.3 Me dê um Abraço Guy





Amanda não sabia porque em algum momento acreditara em Tristeza. Agora que Guy estava ali parecia que nada nem ninguém poderia lhe fazer mal e ela sentia um calor se irradiar de Guy em todas as direções.

Ela estava com uma expressão radiante, porém Tristeza não alterou a dela, mantendo-se indiferente à chegada de Guy.

- O que faz aqui boneco?

- Vim ajudar as duas, tira-las dessa conversa auto-piedosa que não nos levará a lugar nenhum.

- Não vejo como possa discordar de meu ponto de vista. Minha lógica é inegável.

- Talvez seja, ou talvez não. Talvez eu seja apenas um boneco ou talvez não.

A cada palavra que Guy pronunciava ele dava um passo em direção à Tristeza, de maneira firme e decidida parando a poucos centímetros de distância dela. Nesse ponto ele parou antes de completar.

- Talvez ninguém ame Amanda. - fez uma pequena pausa antes de terminar enquanto abraçava Tristeza - Ou talvez não.

Nada a prepararia para aquele momento. Toda sua auto-piedade, naquele rápido instante em que os braços de Guy a tocaram para um abraço, caiu por terra. Sua lógica arrasada. Sempre tivera alguém a seu lado, ela apenas não dera o devido valor.

- Obrigada.

Foi tudo o que conseguiu dizer após se recuperar do choque causado pelo inesperado abraço, pois após dizer isso ela se desfez em várias aves que saíram voando e rasgaram o manto da noite. E por onde voavam levavam a noite consigo deixando a luz do dia em seu lugar. Assim que Amanda viu os raios de sol reassumirem seu lugar e a luz tocar seu rosto ela desejou que o jardim voltasse e assim aconteceu. A partir dela, como uma onda que se espalhava para todas as direções, as flores reapareceram para tomar o lugar do deserto. Não se via mais areia, apenas flores. Apenas um jardim onde antes era deserto.

Com a cena a garota ficou extasiada. Girou ao redor e avistou Guy próximo a ela e não teve dúvidas em correr o mais rápido que podia em sua direção e dizer enquanto o abraçava:

- Guy! Que bom que está aqui, não sei como pude duvidar que viria.

- Não se preocupe senhorita, tudo foi um jogo da Tristeza.

- Ela mentiu para mim?

- Sim, mas ela não sabia disso. Para ela tudo o que dizia era verdade, depois que descobriu que estava irremediavelmente errada ela desapareceu.

Amanda não sabia exatamente o que dizer, mas estava feliz pelo amigo ter vindo em seu auxílio e isso era tudo o que podia pedir.

- Vamos andar pelo jardim. Acredito que a senhorita tenha outras perguntas e eu por acaso possuo outras respostas.

E dizendo isso os dois sairam caminhando lado a lado enquanto conversavam, mas dessa vez a beleza do jardim estava em segundo plano.

Guy explicou que Tristeza era uma encarnação de um sentimento e que existiam outras como ela. Explicou que era Amanda quem dava a força a eles e ressaltou como ela era forte. Quando Amanda falou da força de Guy, ele disse que sua força também provinha de Amanda, o que a surpreendeu. No fim disse que precisariam encontrar outras encarnações que a estavam atrapalhando, assim como Tristeza, para que Amanda pudesse reencontrar a felicidade e tudo ficaria bem. E antes de dar qualquer passo em qualquer direção que fosse ele ressaltou o risco de que Amanda fosse dominada por alguma encarnação e assim nunca conseguiriam encontrar a felicidade da garota. Após pensar um pouco Amanda deu sua resposta:

- Com você iria a qualquer lugar, mas gostaria de pedir uma coisa Guy.

- O que a senhorita desejar eu farei.

- Me dê um abraço Guy.

E eles se abraçaram. E ficaram parados enquanto o tempo passava por eles. E não gostariam que aquele momento passasse, pois tudo o que importava era que ficassem juntos. Porém momento nenhum dura eternamente e como todos os outros esse momento passou e os dois se soltaram e se observaram. Depois de um longo minuto, lado a lado, eles começaram a caminhar.

[conto] Coração II: O Fiel

02 abril 2010

Coração II: O Fiel

Dias mais tarde Garota finalmente percebeu o erro que cometera. O Homem mostrou ser um Homem Mau. Desprezava e humilhava Garota. Às vezes simplesmente sumia e quando aparecia mostrava se considerar superior a Garota. No fim isso só servia para aprisionar ainda mais Coração, atando-o mais fortemente ao solo.

Privado de seu maior prazer Coração conheceu uma nova amiga, uma jovem sedutora: a Senhorita Tristeza. Os flertes com Senhorita Tristeza fizeram com que Garota venda-se os olhos para Coração e não percebe-se o que se passava: Homem Mau e o seu Aprisionador estavam fazendo mau a Garota e Coração.

“Homem vamos sair hoje? Um passeio no parque talvez?”

Implorava Garota.

“Não. Tenho coisas mais importantes a fazer hoje. Mas não se preocupe. Ainda virei te visitar antes do baile.”

Desdenhava o Homem Mau.

“Sim. Muito obrigado.”

Dizia Garota cega para a Senhorita Tristeza que acompanhava insistentemente seu coração.

Nesse mesmo instante Coração flertava com Senhorita Tristeza.

“A senhorita realmente é realmente muito bonita.”

Iludia-se Coração.

“Sim claro meu querido. Sou a única com quem você sempre poderá contar.”

Respondia a charmosa senhorita. Ao mesmo tempo em que pegava Coração em seus braços e lhe aplicava carinhosos beijos molhados. Tão molhados que Coração tinha de tomar cuidado para não se afogar neles. Se afogar nos braços da Senhorita Tristeza.

***

Mas nem tudo estava perdido para Garota. Garota tinha uma Amiga. E Amiga tinha um coração fiel e apesar de Fiel não voar ele era um coração muito bom, um coração que somente uma verdadeira amiga poderia possuir e Amiga era realmente uma amiga de verdade. Fiel era extremamente preocupado com os outros corações e o estado que Coração se encontrava era desesperador.

Após o diagnóstico, Amiga, que sempre conversava com Fiel, começou a tentar fazer com que Garota visse o que Homem Mau estava fazendo a Coração e desse um jeito nisso. Porém Senhorita Tristeza tapava os olhos de Garota com muita habilidade. Amiga percebeu isso, mas não se entregou.

“Garota ele é mau. Largue ele. Faça isso enquanto há tempo.”

“Não Amiga isso é imaginação sua. Ele é bom para mim.”

Não havia jeito. Garota estava realmente cega. Amiga precisava pensar em algo e rápido. Por sorte a idéia lhe veio a mente rápida, porém incompleta. Foi exatamente assim:

“Preciso impedir Homem Mau de ir ao baile que se aproxima! Com isso Garota se sentirá esquecida e poderá romper as correntes que prendem Coração e se libertar do estado em que se encontra agora. Ou melhor ainda!!! Garota poderá encontrar o seu verdadeiro par no baile enquanto Homem Mau estiver fora do caminho. Porém se Homem Mau conseguir chegar ao baile e se explicar... todo o esforço será em vão, mas é um risco que posso correr. Será pelo bem de Coração e Garota. Aiaiai... ela nunca encontrará o par no baile. Será como achar uma agulha em um palheiro. Calma Amiga!!! Não desanimarei nesse momento delicado. Isso no mínimo abrirá os olhos dela. Ou assim espero...”

Tudo isso veio à mente de Amiga em poucos segundos. Mas mesmo assim não havia tempo a ser perdido aperfeiçoando o plano incompleto recém traçado. Assim ela resolveu colocar em curso seu plano incompleto recém traçado e deixar o resto nas mãos do menino brincalhão chamado Destino.

Antes de ir Amiga fingiu desistir de persuadir Garota.

“Você está certa. Encontramos-nos hoje de noite no baile? Beijos se cuide.”

“Até a noite Amiga.”

E foi colocar em prática seu plano incompleto recém traçado.

***

Amiga reuniu o Clã dos Amigos e falou a eles.

“Nossa amiga corre perigo!”

“Quem? Qual de nossas amigas corre perigo?”

Eles perguntaram preocupados.

“Garota!”

Amiga respondeu.

“Mas o que houve com ela?”

Perguntou um dos amigos.

“Ela caiu nas garras de Homem Mau. Que possui um aprisionador!”

“Não!”

Todos gritaram alarmados. E entre gritos de preocupação e xingamentos Amiga continuou.

“Temos de impedi-lo de ir ao baile hoje, para que com isso Garota esteja livre para encontrar seu verdadeiro par!”

“Sim! Isso! Muito Bom!”

Todos gritaram animados com o arremedo de idéia e entre uma “viva” e um “é isso ai” todos saíram para tentar salvar Garota.