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Notas Soltas - Faixa 3

29 fevereiro 2012


Bem vindos de volta senhores! Estamos chegando a terceira faixa desse álbum. Apresentando mais um personagem (ou dois): Agatha, irmã de Eduardo. Espero que gostem. A música dessa faixa foi escolhida pelo Bardo Bêbado (nosso maior e mais querido parceiro) e eu aceitei na mesma hora... Finding my Way... vocês vão entender!

Vamos ao que interessa... ^^




Faixa 3 - Agatha (Finding my Way - Rush)

Estava saindo da faculdade conversando com Meg, sua melhor amiga. Já estava cada vez mais se cansando dessa história de aula. Era verão já. Precisava de férias. Quando cada dia parece valer pela semana inteira, é sinal de que o ano já deu o que tinha de dar.

- Então Meg, vamos ver o ensaio da banda do meu irmão?

- Desculpa amiga não vai dar, eu vou praticar bateria hoje. Melhor do que ouvir aquela banda do seu irmão ensaiar.

- Aff... fala sério amiga. Vai ficar tocando sozinha?

- Não. Depois disso tenho que ir ver o Ian. Ele queria falar comigo e eu já falei pra ele que ia lá hoje.

- O Ian é outro. Já poderia estar em qualquer banda por aí e prefere continuar tocando no parque.

- Agora ele piorou de vez. Tá ensinando o Raphael a tocar e de graça. Pelo menos no parque ele ganhava alguma grana.

- Raphael?

- Aquele maluco que invadiu o palco no show do seu irmão.

- Caramba. Você tem uns amigos que vô te falar...

As duas se despediram e Meg entrou no ônibus. Esse hobby da amiga era curioso, mas Agatha gostava dele. Tinha um ar bem “cool”. Uma garota tocando bateria não era algo que se encontrava facilmente por aí. Para ela a amiga tocava até melhor do que o Ben, o baterista da banda do irmão.

Uma vez até tinha falado isso para ele, mas o irmão mostrou-se um pouco cético. Achou que era um pouco de machismo isso, mas não falou mais nada. Ela era sua amiga e ponto. Não se importava com o quão boa ela fosse na bateria, ou deixasse de ser.

O ensaio estava sendo na casa dela e do irmão. Eles vinham ensaiando muito ali ultimamente, mas de tempos em tempos mudavam o lugar dos ensaios. O problema maior era a bateria, pois ocupava muito espaço e era de difícil transporte. Não que fosse tão fácil assim transportar os amplificadores.

Ficou a maior parte do tempo escutando eles tocarem. Estavam tocando algumas músicas diferentes das habituais. Na verdade parecia outro estilo, algo muito mais... pop. Agatha observou o irmão mais atentamente. Ele não parecia estar gostando nada. Normalmente ele ficava feliz enquanto tocava, mas hoje parecia estar com raiva. Deveriam estar discutindo antes dela chegar. Estavam discutindo muito ultimamente, não tinha certeza qual era a razão de tantas brigas, mas confiava no irmão e por isso não iria se meter.

Eles se despediram e ela foi falar com o irmão:

- Então como as coisas estão indo? Muitos malucos subindo no palco?

- Não. Aquele foi o único, até agora. Daqui a um mês teremos outro show, quem sabe não aparece outro?

- Onde vai ser o próximo show?

- The Road. Nós vamos testar algumas músicas novas. Ideias do Dereck. Ele quer tentar tornar a banda mais popular. Nós meio que vamos nos vender, entende?

Ele parecia estar buscando alguma aprovação. Não iria ser tão boazinha, mas também não maltrataria o irmão.

- Entendo. Eu acho que você sabe se virar bem e vai fazer o que for melhor para você.

- O problema é que as vezes eu não sei o que é melhor para mim.

Ele estava com muitas dúvidas, mas Agatha não podia fazer nada para ajudar. O irmão tinha talento e ela sabia disso, mas por algum motivo não sentia a mesma coisa pelos companheiros de banda dele. Achava que a decisão certa seria sair dessa banda e procurar parceiros melhores, mas não iria falar isso para ele.

Naquela noite ligou para Meg antes de dormir. Ela estava meio que empolgada. Perguntou o motivo:

- O Ian me chamou para falar sobre música e para tocarmos um pouco juntos. Eu, ele e o Raphael. Acho que eles pretendem me chamar para uma banda.

- Aff... vai dizer que você aceitou? Entrar na banda desse maluco que invadiu o palco. Se você reparar ainda falta um baixista e se ele invadir o próximo show também?

- Calma, calma. Não aceitei nada ainda, até porque ninguém me chamou ainda.

- Você vai recusar né?

- Não sei. Finalmente o Ian está fazendo alguma coisa. Ele toca tão bem amiga, e provavelmente quer ver como que eu estou com a bateria. Não sei o que ele pensa sobre o Raphael, mas eu preferia que eles não estivessem na mesma banda.

- Eu também. O que será que o Ian viu nele?

- Não sei, mas alguma coisa o fez mudar de ideia.

Elas continuaram conversando por mais um bom tempo, falaram sobre muitas coisas e Agatha convidou Meg para o show. No fundo queria que ela e o irmão tocassem juntos, mas não falou nada. Pensou por um segundo na possibilidade do irmão também ir para a banda do Raphael, mas afastou esse pensamento o mais rápido que pôde. Não queria nem imaginar isso, mas tinha certeza de duas coisas. Uma, Meg tocaria junto com Ian. A outra... ela sempre gostou dele...

(Poesia) Recomeço

26 fevereiro 2012

Começar uma história de sucesso é tão complicado
quanto terminá-la, pois nem sempre o fim é o termino
de algo custoso ou ruim
As vezes o fim é a melhor alternativa
para um início glorioso

(Poesia) Reciprocidades

25 fevereiro 2012

A sensação do esquecimento é similar a dor
do abandono...
Como não sentir, uma dor indescritível
ao ser simplesmente deixado de lado
quando tudo que queremos é ser bem quisto
Como devemos agir?
se nossos sentimentos são inversamente proporcionais?
Prefiro pensar que isso é apenas uma fase
Prefiro pensar que meu amor é recíproco...

Resenha - O Festim dos Corvos

22 fevereiro 2012



Vou começar a fazer algumas resenhas, não são resenhas acadêmicas nem nada, só alguns textos dando a minha opinião (de merda vide Matando Robôs Gigantes...) sobre alguns livros que li e achei, por algum motivo, interessante escrever um pouco a respeito.

Então vamos nessa... com... O Festim dos Corvos.

Sabe, começando bem do começo. Gosto da tradução de Game of Trones para Guerra dos Tronos, mas nesse último livro com o incrível e sombrio título A Feast for Crows sendo traduzido para O Festim dos Corvos eu acabei achando meio caído. Pegando uma tradução literal rápida temos: Um Banquete para os Corvos. Mesmo essa tradução horrorosa que eu demorei 2 segundos pra pensar já me soa melhor do que o título nacional. Claro que isso é o de menos e agora sim vamos ao que interessa.

O primeiro choque já vem no primeiro capítulo narrado do ponto de vista de... "O Profeta" que logo descobrimos ser Cabelo Molhado. Um novo recurso usado nesse livro. Alguns (pra ser exato dois) núcleos da história tem o "ponto de vista compartilhado". Sim acompanhamos mais de um personagem em Dorne e nas Ilhas de Ferro. Que acabam se revelando capítulos bem interessantes (ou não).

O outro choque vem depois de alguns capítulos e só é explicado depois do fim do livro. Tirion, Lord Snow, Darvos e Daeneris (desculpe se esqueci alguém, mas tudo bem) ficaram para o próximo livro,para que esse não ficasse gigante. No fim o mistério sobre o paradeiro de Tirion (que está mais entocado que Osama) ficou pra próxima.

Quanto aos personagens que aparecem nesse livro. O meu preferido deles (considerando volumes anteriores da série) é a Arya Stark, mas confesso que dessa vez ela me decepcionou um pouco. Capítulos divertidos, mas pouco inspirados narram a trajetória da menina Stark em direção a não sei o que. O que quero dizer é que os capítulos dela não chegaram a um ponto da história que te deixam com o coração na mão (ou algo assim) como costuma acontecer.

Na contra mão da menina Stark vem o primogênito dos Lannister. Jaime subiu absurdamente no meu conceito. Na verdade eu gosto de histórias sobre esforço e tudo mais. E nosso adorado Regicida passa boa parte do livro treinando com sua querida (e agora única) mão esquerda. Espero que ele se mostre o maior espadachim do reino mesmo com a mão esquerda, o que tenho quase certeza de ser uma esperança infundada, visto o realismo (em certos pontos) da série.

Os capítulos de Sansa são poucos (graças a Deus), provavelmente pelo fato dela estar ilhada no Ninho da Águia. Já as partes da Cersei me irritaram (talvez porque ela me irrite) e por fim os capítulos de Brienne, a Bela são excelentes (na minha opinião novamente). A viagem dela continua nesse volume e as estradas continuam perigosas, fazendo o leitor prender a respiração algumas vezes.

Propositalmente nem citarei os capítulos de Sam... entenda isso como quiser...

Até o próximo livro.

Estrelas: 4,2

(Poesia) Espectativa

21 fevereiro 2012

A tentativa, a vontade, o acerto e o erro
Estão sempre tão próximas e ao mesmo tempo
tao divergentes
Por que sempre temos que fazer uma escolha?
Por que nunca conseguimos a todos agradar?
Sorrisos e abraços nem sempre são suficientes
Todos esperam cada vez mais gotas de sacrifício
Não para o dia de glória
mas sim para o dia de paz



Notas Soltas - Faixa 2

15 fevereiro 2012


Muito obrigado pela paciência, mas aqui está a faixa dois desse álbum. Essa guitarra aí da foto é bem famosa, apesar da perspectiva estilosa acho que ainda dá pra reconhecer. Outra curiosidade é que a música tema desse capítulo (que originalmente não era essa...) na verdade é um cover do Cake. A banda original é o Bread  lá dos anos 70. Até a próxima daqui a duas semanas e espero que gostem. Lembrando que esse conto também está sendo publicado no parceiro Bardo Bêbado às quintas.



Faixa 2 - Raphael (Guitar Man - Cake)

Ele acordou um pouco tonto e com dores em vários lugares do corpo. Não sabia muito bem a que golpe cada dor correspondia, mas isso não fazia elas doerem menos. Tinha certeza de que aquela na costela era o lugar em que a guitarra o atingira antes dele ser expulso do palco. Achava que a bota do segurança era total responsável pela dor em seu abdomen, mas quanto a essa não podia dar certeza total, afinal tinha uma vaga lembrança de ter batido em alguém quando caiu, ou alguém bateu nele, isso também era incerto.

Na sua opinião aquela atitude havia sido totalmente exagerada. Como pôde ser expulso do The Road somente por ter invadido o palco? Afinal ele só queria conseguir um bom baixista e ele sabia que Eduardo seria o melhor que encontraria. Estava justificado não?

Deixou as dores de lado e saiu de casa. Não sabia se isso era seguro no estado em que estava, mas precisava procurar pelo tal do Ian. Ele tinha dito que o ajudaria. Primeiro veio com aquela desculpa estranha sobre não querer ter uma banda. Como assim? Todo mundo que toca gostaria de ter uma banda um dia. Nem imaginava o que o tinha feito mudar de opinião, mas estava grato que as coisas estavam começando a acontecer.

Os últimos tempos não vinham sendo fáceis para ele. Desde que decidira levar a ideia da banda à sério não havia feito nenhum progresso. Todos recusavam, ninguém tinha dado a mínima oportunidade a ele. Nenhuma das pessoas com quem falou tinha ao menos dado a ele a oportunidade de cantar. Talvez esse Ian tenha sido o primeiro a levá-lo a sério. Não eram grandes amigos, mas não podia dizer que eram completos estranhos. Mesmo assim ainda ficava curioso com a súbita mudança de opinião dele.

Sabia bem o primeiro lugar que procuraria. O parque. Ian tinha ido para lá todos os dias desde que o verão começara. Não tinha certeza, mas diziam por aí que ele havia feito isso em todos os verões anteriores, desde que aprendera a tocar. Talvez isso mostrasse que ele não era talentoso, mas sim esforçado. Talvez isso não fizesse diferença nenhuma no fim das contas.

Quando chegou teve uma surpresa. O parque estava silencioso e vazio. Ian não estava lá. Podia estar atrasado, ou quem sabe só evitando Raphael mesmo. Isso não era possível. Ele tinha dito que o ajudaria. Não sabia o que podia estar acontecendo, então esperou ali perto de onde o encontrara no dia anterior. Estava ficando preocupado quando o viu se aproximar com um picolé na mão.

- Se agente tivesse marcado um horário você estaria atrasado.

- Como assim? Eu cheguei antes de você.

- Eu cheguei já faz um tempo. Como teria de parar de tocar quando você chegasse resolvi nem começar e como não tinha mais nada para fazer fui comprar alguma coisa gelada.

“Ele praticamente respira música.” Raphael não sabia como alguém podia ser assim. Se não estava tocando então não estava fazendo nada. Tocar era tudo o que Ian fazia... o tempo todo. Era desse tipo de vontade que precisava.

- Vem comigo. Eu vou te ensinar a tocar.

- Eu não preciso tocar. Eu vou ser o vocalista, você que vai ser a guitarra da banda.

Ian o encarou.

- Todo mundo que pretende ter uma banda precisa entender alguma coisa de música e você, até onde sei, não entende coisa alguma. Outra coisa, não falei que vou me juntar à sua banda. Falei que vou te ajudar. Então... quer ser ajudado?

Não esperava por aquela. Entendera que já tinha encontrado um guitarrista quando Ian falou com ele na porta do The Road, mas parecia que se enganara. Bom, se ele pretendia ensiná-lo algo que o ajudaria a montar a banda, então estaria mais do que disposto a aprender.

- Claro. Vamos logo.

A casa era normal para a classe média. Tinha um quintal de tamanho razoável, dois andares e uma garagem. A família provavelmente tinha um único carro que não estava lá, pois a garagem estava vazia quando entraram nela. Começou a entender quando viu caixas de ovo em todas as paredes.

- Isolamento acústico?

- Eu costumava tocar muito mais guitarra do que violão antigamente e isso incomodava um pouco os vizinhos. Eu e meu pai colocamos essas coisas para abafar o som. Funcionou, não é um isolamento perfeito, mas foi o suficiente.

- Por que hoje em dia você toca mais violão?

- Não sei. Eu ainda toco a guitarra, mas tenho preferido ouvir o som do violão a maior parte do tempo.

Passaram o tempo inteiro praticando. Raphael nem mesmo chegou a ver o resto da casa. Ian passou algumas escalas para ele treinar. Tinham algum nome, mas ele não lembrava nenhum deles. Claro que isso foi depois de falar sobre a posição dos dedos, alguma teoria e muitas correções. Muitas mesmo, mais do que foi capaz de contar. Ian era um professor muito criterioso.

O treinamento foi todo feito em uma guitarra antiga que Ian guardava em casa. Ele falou que seria melhor treinar com a guitarra ao invés do violão, já que o objetivo era criar uma banda de rock. O amplificador esteve desligado uma boa parte do tempo. Até que começaram as escalas e Ian resolveu ligá-lo.

- Acho que se você ouvir como você é ruim agora isso vai te motivar a treinar mais. Para poder aprender mais rápido.

Raphael apenas sorriu sem muita alegria e concordou.

Ensinar parecia diverti-lo. Não sabia o porquê, mas tinha um palpite. Qualquer coisa relacionada à música divertia Ian. Mesmo que nada mais o fizesse.

Quando perceberam o dia já havia passado e era a hora de ir. Ian falou para ele treinar a posição dos dedos sem a guitarra. Não era o ideal, mas iria ajudá-lo.

- Você tem que conseguir a sua guitarra rápido. Praticar em casa sozinho vai te ajudar bastante.

- Você podia me emprestar a sua guitarra para eu poder praticar.

- Verdade. Se você demorar a conseguir uma eu posso te emprestar. Por enquanto sua “air guitar” vai servir.

Foi caminhando para casa, estava começando a entender o que ele queria dizer com aquilo tudo. Realmente seria mais competente como músico se entendesse algo da teoria e se fosse capaz de tocar algum instrumento. Havia agido de maneira infantil e só agora percebia isso.

Não havia nem chegado na esquina ainda quando ouviu um som de bateria. Gostava do que ouvia. Não havia falado com nenhum baterista até aquele momento, mas agora começava a ter ideias. Falaria com Ian em breve. Se esse cara morava na sua rua não tinha como eles não se conhecerem.

Notas Soltas - Faixa 1

01 fevereiro 2012



Começando aqui um novo conto. Espero que gostem. Tenho me esforçado bastante nesse (mais do que normalmente). É isso. Leiam e se divirtam. Próximo capítulo daqui a duas semanas.


Quanto ao mistérios na cidade... bom... eu preciso de um pouco de tempo. =/





Ian estava tocando seu violão. Era uma melodia calma e despretenciosa. Não era uma música específica, apenas algumas notas que soavam bem juntas.

Ele gostava de tocar antes do café. Na verdade gostava de tocar em todos os momentos do dia, mas assim que acordava era um momento especial. Ficava afastado do instrumento por umas dez horas em quanto dormia, acordar para ele era o reencontro.

- Ian!

A mãe devia ter ouvido ele tocando e o estava chamando para quebrar o jejum. Ela gostava de ver o filho tocar, mas ele praticamente não fazia outra coisa e por vezes a mãe o interrompia para fazer algo que julgava mais importante no momento, tipo se alimentar. Para Ian nada trazia mais satisfação do que praticar com o violão.

Os dois moravam sozinhos na casa. O pai de Ian viajava muito por causa do trabalho e eles pouco se viam. Os pais se davam bastante bem, mas a mãe dizia que a proximidade estragava a relação dos dois. Já estavam legalmente separados havia muito tempo, mas sempre que ele tirava umas férias ia procurá-los. Não só o filho, mas também sua ex-mulher. Ian sabia que os dois se amavam, mas entendia que não dariam certo juntos. O pai gostava da sua liberdade.

Largou o instrumento e começou a descer. Continuaria tocando por mais tempo só que já estava ficando tarde, ao menos é o que a mãe dele diria. Conversou com ela por algum tempo sobre coisas do dia-a-dia. Ela perguntou se iria sair e ele respondeu que sim. Ficaria fora durante o dia e comeria alguma coisa na rua.

Na verdade iria tocar na rua. O verão estava sendo quente e tocar em casa durante o dia seria no mínimo desconfortável, por isso estava tocando no parque o dia inteiro, todos os dias.

Ian não se lembrava quando foi a primeira vez que alguém deixou uma gorjeta, mas o fato é que desde então se preparou melhor, já deixando o local para depositarem as contribuições à mostra, mas não se importou muito com o repertório, tocaria o que queria quer as pessoas gostassem quer não. A verdade é que era bom ganhar alguma grana enquanto praticava, mas não pensava nisso muito seriamente.

Sempre cantava enquanto praticava, apesar de tocar melhor do que cantar. Achava que sua voz não havia sido feita para isso. Por mais que praticasse não se sentia satisfeito com ela. Sabia que muito provavelmente não conseguiria ser excelente nas duas coisas, mas ninguém o impediria de tentar.

A vida era boa. Não sabia o que queria dela, mas ainda assim era boa. Ian sabia que isso era perigoso, mas não se importava muito. Queria tocar e isso era tudo que sabia. Tudo o que importava.

Percebeu que Raphael estava se aproximando. Isso não era algo muito bom. O garoto estava tentando reunir pessoas para uma banda já a algumas semanas. Ele não sabia tocar nada, mas queria ser vocalista e achava que não precisava aprender nenhum instrumento para isso. Um engano comum que muita gente comete quando está começando.

Ian não sabia como havia conseguido se esquivar por tanto tempo, mas estava parecendo que chegara a sua vez. Ele se dava bem com Raphael, mas não pretendia aceitar o convite. Só gostava de tocar, não estava pensando em ter uma banda. Não via motivos para isso. Nem queria ser famoso nem nada.

Provavelmente daria a desculpa padrão que a maioria usava. “Me desculpe, mas eu acho que você deveria aprender a tocar alguma coisa, mesmo que vá ser só o vocalista.” Não era somente por isso que as pessoas recusavam, mas esse era um dos motivos. Talvez o menos indelicado de ser dito para o rapaz. Provavelmente era isso que falaria.

Só que na hora não conseguiu falar nada além da verdade.

- Eu não quero ter uma banda. Eu só gosto de tocar só isso.

Ele parecia não estar muito convencido, mas era a verdade. Muitas vezes a verdade é mais difícil de ser levada a sério do que uma meia mentira. Poderia ter mentido, mas viu vontade nos olhos de Raphael, como raramente via nas pessoas. Sempre acreditou que não se devia mentir para olhos assim e realmente não foi capaz de fazê-lo.

A banda provavelmente daria certo se ele encontrasse boas pessoas para ela, mas a vontade por si só não moveria montanhas, apenas a dedicação incansável é capaz de fazê-lo. Não bastava escolher bons músicos, ele precisava ser bom também. Quanto a isso Ian ainda nutria algumas dúvidas.

Quando parou de tocar percebeu que pulara o almoço. Não se importava, estava sem fome. Iria direto para o jantar. Pular uma refeição não era saudável, mas como ele nem percebeu achou que não haveria muitos problemas.

Depois de sua segunda, e provável última refeição do dia, foi assistir um show de uma banda que estava se destacando pela região. Não eram famosos de verdade, mas dizia-se que tinham algum potencial. Ian gostava disso e sempre que possível ia ouvir algumas bandas promissoras. A maioria se separava em pouco tempo sem muito sucesso, mas o garoto achava que ainda veria alguma delas despontar. O importante era não desanimar, já tinha visto isso acontecer algumas vezes. A banda acabava porque não havia mais a mesma vontade do início.

O nome da banda que subiu ao palco aquela noite foi apagado da mente de Ian com uma facilidade incrível. Isso não é muito bom para um nome de banda. O nome tem que ter impacto, tem que marcar, tem de ser forte, pois se o nome for esquecido a banda também o será. Ele sabia que não teria dificuldade em esquecer aquela banda da mesma maneira que já nem lembrava o seu nome.

A guitarra errava algumas notas, o vocalista atravessava em alguns pontos e Ian tinha dúvidas se o batera conseguiria passar pelo metrônomo. O que carregava a banda era o baixo. Era realmente bom, aquele baixista teria uma vaga garantida em qualquer banda. Começou a se imaginar tocando na mesma banda que ele.

O baixista era negro, com um cabelo trançado até a cintura, no melhor estilo rastafari. Estava sem camisa e balançava os cabelos para todo o lado no ritmo da música. Era forte, certamente mais do que Ian. Pelo que sabia seu nome era Eduardo, já o tinha visto uma ou duas vezes por ali, mas nunca havia falado com ele.

Terminaram uma música e começaram logo outra. Era um cover do Red Hot. Não o surpreendia, já que o único que salvava a banda era o baixista, que tocassem algo em que o baixo se destacava. Realmente ele não era o Flea, mas poderia ser um dia, ou até melhor.

Ian já estava saindo ao final da música quando um maluco invadiu o pequeno palco. Ele se virou quando percebeu que algo estava errado e reconheceu Raphael assim que o viu. “O que esse maluco está fazendo?” Não foi possível ouvir muita coisa, apenas alguns trechos em que ele falou mais próximo ao microfone.

- Você está perdendo tempo com... fazer uma banda... esquece isso...

Logo ele foi retirado do palco e mesmo enquanto era arrastado para fora ele ainda gritava algo como:

- Vem pra minha banda cara! Vai ser muito melhor do que esse monte de lixos!

Realmente ele tinha um bom ouvido. Podia não ter muita noção de música, ou da vida, mas tinha um bom ouvido. Tinha vontade e muita coragem também. Se ele tivesse um pouco de ajuda talvez conseguisse. Ian ainda tinha algumas dúvidas, mas mesmo assim saiu da casa de shows para encontrar Raphael se levantando após ter sido posto para fora. Ele estava um pouco machucado, mas sobreviveria.

Deu um breve sorriso, estendeu a mão e falou:

- Cara... você precisa de ajuda...

Não sabia se um dia se arrependeria, mas naquela hora isso pareceu certo.