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Notas Soltas - Faixa 1

01 fevereiro 2012



Começando aqui um novo conto. Espero que gostem. Tenho me esforçado bastante nesse (mais do que normalmente). É isso. Leiam e se divirtam. Próximo capítulo daqui a duas semanas.


Quanto ao mistérios na cidade... bom... eu preciso de um pouco de tempo. =/





Ian estava tocando seu violão. Era uma melodia calma e despretenciosa. Não era uma música específica, apenas algumas notas que soavam bem juntas.

Ele gostava de tocar antes do café. Na verdade gostava de tocar em todos os momentos do dia, mas assim que acordava era um momento especial. Ficava afastado do instrumento por umas dez horas em quanto dormia, acordar para ele era o reencontro.

- Ian!

A mãe devia ter ouvido ele tocando e o estava chamando para quebrar o jejum. Ela gostava de ver o filho tocar, mas ele praticamente não fazia outra coisa e por vezes a mãe o interrompia para fazer algo que julgava mais importante no momento, tipo se alimentar. Para Ian nada trazia mais satisfação do que praticar com o violão.

Os dois moravam sozinhos na casa. O pai de Ian viajava muito por causa do trabalho e eles pouco se viam. Os pais se davam bastante bem, mas a mãe dizia que a proximidade estragava a relação dos dois. Já estavam legalmente separados havia muito tempo, mas sempre que ele tirava umas férias ia procurá-los. Não só o filho, mas também sua ex-mulher. Ian sabia que os dois se amavam, mas entendia que não dariam certo juntos. O pai gostava da sua liberdade.

Largou o instrumento e começou a descer. Continuaria tocando por mais tempo só que já estava ficando tarde, ao menos é o que a mãe dele diria. Conversou com ela por algum tempo sobre coisas do dia-a-dia. Ela perguntou se iria sair e ele respondeu que sim. Ficaria fora durante o dia e comeria alguma coisa na rua.

Na verdade iria tocar na rua. O verão estava sendo quente e tocar em casa durante o dia seria no mínimo desconfortável, por isso estava tocando no parque o dia inteiro, todos os dias.

Ian não se lembrava quando foi a primeira vez que alguém deixou uma gorjeta, mas o fato é que desde então se preparou melhor, já deixando o local para depositarem as contribuições à mostra, mas não se importou muito com o repertório, tocaria o que queria quer as pessoas gostassem quer não. A verdade é que era bom ganhar alguma grana enquanto praticava, mas não pensava nisso muito seriamente.

Sempre cantava enquanto praticava, apesar de tocar melhor do que cantar. Achava que sua voz não havia sido feita para isso. Por mais que praticasse não se sentia satisfeito com ela. Sabia que muito provavelmente não conseguiria ser excelente nas duas coisas, mas ninguém o impediria de tentar.

A vida era boa. Não sabia o que queria dela, mas ainda assim era boa. Ian sabia que isso era perigoso, mas não se importava muito. Queria tocar e isso era tudo que sabia. Tudo o que importava.

Percebeu que Raphael estava se aproximando. Isso não era algo muito bom. O garoto estava tentando reunir pessoas para uma banda já a algumas semanas. Ele não sabia tocar nada, mas queria ser vocalista e achava que não precisava aprender nenhum instrumento para isso. Um engano comum que muita gente comete quando está começando.

Ian não sabia como havia conseguido se esquivar por tanto tempo, mas estava parecendo que chegara a sua vez. Ele se dava bem com Raphael, mas não pretendia aceitar o convite. Só gostava de tocar, não estava pensando em ter uma banda. Não via motivos para isso. Nem queria ser famoso nem nada.

Provavelmente daria a desculpa padrão que a maioria usava. “Me desculpe, mas eu acho que você deveria aprender a tocar alguma coisa, mesmo que vá ser só o vocalista.” Não era somente por isso que as pessoas recusavam, mas esse era um dos motivos. Talvez o menos indelicado de ser dito para o rapaz. Provavelmente era isso que falaria.

Só que na hora não conseguiu falar nada além da verdade.

- Eu não quero ter uma banda. Eu só gosto de tocar só isso.

Ele parecia não estar muito convencido, mas era a verdade. Muitas vezes a verdade é mais difícil de ser levada a sério do que uma meia mentira. Poderia ter mentido, mas viu vontade nos olhos de Raphael, como raramente via nas pessoas. Sempre acreditou que não se devia mentir para olhos assim e realmente não foi capaz de fazê-lo.

A banda provavelmente daria certo se ele encontrasse boas pessoas para ela, mas a vontade por si só não moveria montanhas, apenas a dedicação incansável é capaz de fazê-lo. Não bastava escolher bons músicos, ele precisava ser bom também. Quanto a isso Ian ainda nutria algumas dúvidas.

Quando parou de tocar percebeu que pulara o almoço. Não se importava, estava sem fome. Iria direto para o jantar. Pular uma refeição não era saudável, mas como ele nem percebeu achou que não haveria muitos problemas.

Depois de sua segunda, e provável última refeição do dia, foi assistir um show de uma banda que estava se destacando pela região. Não eram famosos de verdade, mas dizia-se que tinham algum potencial. Ian gostava disso e sempre que possível ia ouvir algumas bandas promissoras. A maioria se separava em pouco tempo sem muito sucesso, mas o garoto achava que ainda veria alguma delas despontar. O importante era não desanimar, já tinha visto isso acontecer algumas vezes. A banda acabava porque não havia mais a mesma vontade do início.

O nome da banda que subiu ao palco aquela noite foi apagado da mente de Ian com uma facilidade incrível. Isso não é muito bom para um nome de banda. O nome tem que ter impacto, tem que marcar, tem de ser forte, pois se o nome for esquecido a banda também o será. Ele sabia que não teria dificuldade em esquecer aquela banda da mesma maneira que já nem lembrava o seu nome.

A guitarra errava algumas notas, o vocalista atravessava em alguns pontos e Ian tinha dúvidas se o batera conseguiria passar pelo metrônomo. O que carregava a banda era o baixo. Era realmente bom, aquele baixista teria uma vaga garantida em qualquer banda. Começou a se imaginar tocando na mesma banda que ele.

O baixista era negro, com um cabelo trançado até a cintura, no melhor estilo rastafari. Estava sem camisa e balançava os cabelos para todo o lado no ritmo da música. Era forte, certamente mais do que Ian. Pelo que sabia seu nome era Eduardo, já o tinha visto uma ou duas vezes por ali, mas nunca havia falado com ele.

Terminaram uma música e começaram logo outra. Era um cover do Red Hot. Não o surpreendia, já que o único que salvava a banda era o baixista, que tocassem algo em que o baixo se destacava. Realmente ele não era o Flea, mas poderia ser um dia, ou até melhor.

Ian já estava saindo ao final da música quando um maluco invadiu o pequeno palco. Ele se virou quando percebeu que algo estava errado e reconheceu Raphael assim que o viu. “O que esse maluco está fazendo?” Não foi possível ouvir muita coisa, apenas alguns trechos em que ele falou mais próximo ao microfone.

- Você está perdendo tempo com... fazer uma banda... esquece isso...

Logo ele foi retirado do palco e mesmo enquanto era arrastado para fora ele ainda gritava algo como:

- Vem pra minha banda cara! Vai ser muito melhor do que esse monte de lixos!

Realmente ele tinha um bom ouvido. Podia não ter muita noção de música, ou da vida, mas tinha um bom ouvido. Tinha vontade e muita coragem também. Se ele tivesse um pouco de ajuda talvez conseguisse. Ian ainda tinha algumas dúvidas, mas mesmo assim saiu da casa de shows para encontrar Raphael se levantando após ter sido posto para fora. Ele estava um pouco machucado, mas sobreviveria.

Deu um breve sorriso, estendeu a mão e falou:

- Cara... você precisa de ajuda...

Não sabia se um dia se arrependeria, mas naquela hora isso pareceu certo.

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