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Notas Soltas - Faixa 2

15 fevereiro 2012


Muito obrigado pela paciência, mas aqui está a faixa dois desse álbum. Essa guitarra aí da foto é bem famosa, apesar da perspectiva estilosa acho que ainda dá pra reconhecer. Outra curiosidade é que a música tema desse capítulo (que originalmente não era essa...) na verdade é um cover do Cake. A banda original é o Bread  lá dos anos 70. Até a próxima daqui a duas semanas e espero que gostem. Lembrando que esse conto também está sendo publicado no parceiro Bardo Bêbado às quintas.



Faixa 2 - Raphael (Guitar Man - Cake)

Ele acordou um pouco tonto e com dores em vários lugares do corpo. Não sabia muito bem a que golpe cada dor correspondia, mas isso não fazia elas doerem menos. Tinha certeza de que aquela na costela era o lugar em que a guitarra o atingira antes dele ser expulso do palco. Achava que a bota do segurança era total responsável pela dor em seu abdomen, mas quanto a essa não podia dar certeza total, afinal tinha uma vaga lembrança de ter batido em alguém quando caiu, ou alguém bateu nele, isso também era incerto.

Na sua opinião aquela atitude havia sido totalmente exagerada. Como pôde ser expulso do The Road somente por ter invadido o palco? Afinal ele só queria conseguir um bom baixista e ele sabia que Eduardo seria o melhor que encontraria. Estava justificado não?

Deixou as dores de lado e saiu de casa. Não sabia se isso era seguro no estado em que estava, mas precisava procurar pelo tal do Ian. Ele tinha dito que o ajudaria. Primeiro veio com aquela desculpa estranha sobre não querer ter uma banda. Como assim? Todo mundo que toca gostaria de ter uma banda um dia. Nem imaginava o que o tinha feito mudar de opinião, mas estava grato que as coisas estavam começando a acontecer.

Os últimos tempos não vinham sendo fáceis para ele. Desde que decidira levar a ideia da banda à sério não havia feito nenhum progresso. Todos recusavam, ninguém tinha dado a mínima oportunidade a ele. Nenhuma das pessoas com quem falou tinha ao menos dado a ele a oportunidade de cantar. Talvez esse Ian tenha sido o primeiro a levá-lo a sério. Não eram grandes amigos, mas não podia dizer que eram completos estranhos. Mesmo assim ainda ficava curioso com a súbita mudança de opinião dele.

Sabia bem o primeiro lugar que procuraria. O parque. Ian tinha ido para lá todos os dias desde que o verão começara. Não tinha certeza, mas diziam por aí que ele havia feito isso em todos os verões anteriores, desde que aprendera a tocar. Talvez isso mostrasse que ele não era talentoso, mas sim esforçado. Talvez isso não fizesse diferença nenhuma no fim das contas.

Quando chegou teve uma surpresa. O parque estava silencioso e vazio. Ian não estava lá. Podia estar atrasado, ou quem sabe só evitando Raphael mesmo. Isso não era possível. Ele tinha dito que o ajudaria. Não sabia o que podia estar acontecendo, então esperou ali perto de onde o encontrara no dia anterior. Estava ficando preocupado quando o viu se aproximar com um picolé na mão.

- Se agente tivesse marcado um horário você estaria atrasado.

- Como assim? Eu cheguei antes de você.

- Eu cheguei já faz um tempo. Como teria de parar de tocar quando você chegasse resolvi nem começar e como não tinha mais nada para fazer fui comprar alguma coisa gelada.

“Ele praticamente respira música.” Raphael não sabia como alguém podia ser assim. Se não estava tocando então não estava fazendo nada. Tocar era tudo o que Ian fazia... o tempo todo. Era desse tipo de vontade que precisava.

- Vem comigo. Eu vou te ensinar a tocar.

- Eu não preciso tocar. Eu vou ser o vocalista, você que vai ser a guitarra da banda.

Ian o encarou.

- Todo mundo que pretende ter uma banda precisa entender alguma coisa de música e você, até onde sei, não entende coisa alguma. Outra coisa, não falei que vou me juntar à sua banda. Falei que vou te ajudar. Então... quer ser ajudado?

Não esperava por aquela. Entendera que já tinha encontrado um guitarrista quando Ian falou com ele na porta do The Road, mas parecia que se enganara. Bom, se ele pretendia ensiná-lo algo que o ajudaria a montar a banda, então estaria mais do que disposto a aprender.

- Claro. Vamos logo.

A casa era normal para a classe média. Tinha um quintal de tamanho razoável, dois andares e uma garagem. A família provavelmente tinha um único carro que não estava lá, pois a garagem estava vazia quando entraram nela. Começou a entender quando viu caixas de ovo em todas as paredes.

- Isolamento acústico?

- Eu costumava tocar muito mais guitarra do que violão antigamente e isso incomodava um pouco os vizinhos. Eu e meu pai colocamos essas coisas para abafar o som. Funcionou, não é um isolamento perfeito, mas foi o suficiente.

- Por que hoje em dia você toca mais violão?

- Não sei. Eu ainda toco a guitarra, mas tenho preferido ouvir o som do violão a maior parte do tempo.

Passaram o tempo inteiro praticando. Raphael nem mesmo chegou a ver o resto da casa. Ian passou algumas escalas para ele treinar. Tinham algum nome, mas ele não lembrava nenhum deles. Claro que isso foi depois de falar sobre a posição dos dedos, alguma teoria e muitas correções. Muitas mesmo, mais do que foi capaz de contar. Ian era um professor muito criterioso.

O treinamento foi todo feito em uma guitarra antiga que Ian guardava em casa. Ele falou que seria melhor treinar com a guitarra ao invés do violão, já que o objetivo era criar uma banda de rock. O amplificador esteve desligado uma boa parte do tempo. Até que começaram as escalas e Ian resolveu ligá-lo.

- Acho que se você ouvir como você é ruim agora isso vai te motivar a treinar mais. Para poder aprender mais rápido.

Raphael apenas sorriu sem muita alegria e concordou.

Ensinar parecia diverti-lo. Não sabia o porquê, mas tinha um palpite. Qualquer coisa relacionada à música divertia Ian. Mesmo que nada mais o fizesse.

Quando perceberam o dia já havia passado e era a hora de ir. Ian falou para ele treinar a posição dos dedos sem a guitarra. Não era o ideal, mas iria ajudá-lo.

- Você tem que conseguir a sua guitarra rápido. Praticar em casa sozinho vai te ajudar bastante.

- Você podia me emprestar a sua guitarra para eu poder praticar.

- Verdade. Se você demorar a conseguir uma eu posso te emprestar. Por enquanto sua “air guitar” vai servir.

Foi caminhando para casa, estava começando a entender o que ele queria dizer com aquilo tudo. Realmente seria mais competente como músico se entendesse algo da teoria e se fosse capaz de tocar algum instrumento. Havia agido de maneira infantil e só agora percebia isso.

Não havia nem chegado na esquina ainda quando ouviu um som de bateria. Gostava do que ouvia. Não havia falado com nenhum baterista até aquele momento, mas agora começava a ter ideias. Falaria com Ian em breve. Se esse cara morava na sua rua não tinha como eles não se conhecerem.

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