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Multi sunt vocati, pauci vero electi

14 outubro 2011

Como todo bom historiador gostaria de iniciar meus trabalhos aqui, tratando de um assunto polemico:
"a heterodoxia da religião nos primórdios brasileiro, bem como a importância deste seguimento para o período colonial e os processos que a tornam peculiar" (Quem foi que disse que religião não se discute?).
A religião possuiu um papel fundamental no processo de formação do Brasil colonial. No seu início, surge como uma extensão da religiosidade pregada pelo colonizador lusitano, trazendo do velho continente, práticas ainda fortemente influenciada por uma mentalidade medievalista. Características marcantes como a necessidade de exteriorização da fé, a presença de uma rica tradição imagética e de uma religiosidade extremamente paranóica marcam o embati entre os homens de Deus e os nativos da “Terra dos pecados”.
O padroado Régio concedido pelo Papa à Coroa portuguesa permite que o esforço colonizador na terra tupiniquim aconteça negligenciando o objetivo primeiro de angariar almas para o reino de Deus, passando a exercer um viés de favorecimento dos interesses do Estado, caracterizado principalmente por uma maior preocupação com o controle das fronteiras evidenciando uma visão econômica do processo. Fato demonstrado no rígido controle exercido pelo Rei sobre as visitas pastorais na região e a ausência de um bispado nos primeiros cem anos de existência do Brasil.
Os homens dos primeiros séculos da colonização conviviam diariamente com a presença de “Diabos”. A realidade medieval, unida com o ainda vivo sentimento de combate as heresias imposto pelas Cruzadas, levam a demonização daquilo que lhes é desconhecido e uma eventual marginalização das práticas religiosas dos nativos da terra e dos negros trazidos para a escravidão. A maneira encontrada por esses povos para preservar sua integridade religiosa, sem confrontar a mão opressora da evangelização, foi adaptar suas formas de culto através das convergências encontradas dentro das doutrinas de ambas as culturas.
O sincretismo só se faz possível, pois havia termos em comum entre as partes envolvidas, levando em consideração que o próprio catolicismo trazido ao Brasil pelos colonizadores também sofria influências antes mesmo de adentrar as terras do novo mundo.
Desta forma, o cristianismo praticado pelo povo brasileiro se apresenta como o somatório das culturas diversificadas que o compõem. A religião popular é marcada pelo desconhecimento dos Dogmas, pela participação das missas sem entender o real significado do rito, pelo magismo configurado principalmente pelas simpatias e crendices e pela dicotomia do sobrenatural representado pelo combate eterno do bem contra o mal, das forças opositoras Deus e o Diabo.
O Filme “Em Nome da Rosa” de Jean-Jaques apresenta em seu enredo, esse pensamento conflituoso, a necessidade dessa religião medieval de justificar o desconhecido através do viés sobrenatural e de usar o medo e a demonização dos fatos cotidianos como forma de justificar a fé e a existência de Deus.
Esse tipo de processo também é facilmente percebido no caso de nossa religião colonial. Era hábito comum aos religiosos da época diabolizar os acontecimentos do cotidiano e utilizar esse tipo de evangelização do medo para manter os fiéis no caminho de Deus e sob o comando da Igreja. Nem mesmo as relações climáticas da colônia fugiram à essa regra de demonização. As terras brasileiras, que primeiramente eram atribuídos teor sagrado, rapidamente se invertem para seu viés profano, os religiosos que vieram para cá tinham a missão de combater o mal do novo continente, fatos como o calor, “inocência” dos nossos índios e os insetos, eram utilizados para reforçar essa ideia de” morada do diabo”.
No caso específico do filme, as mortes atribuídas ao demônio, são desmistificadas pela chegada de um frei que claramente influenciado pelos ideais do racionalismo renascentista, utiliza práticas empíricas e investiga os acontecimentos através do olhar da razão, chegando ao verdadeiro estopim do problema.
Tanto na ficção quanto na vida real, é fato a utilização de forças opositoras para a reafirmação dos dogmas de fé. É comum a realidade da época da colonização ao demonizar aquilo que a eles parece inferior como a escravidão ou desconhecido como a religiosidade indígena, forçam esse povo a lutar contra as forças opressoras através de um transcrito oculto de modo a combater a hegemonia do sistema predominante sendo esta a única forma de sobrevivência destas heterodoxias colônias diabolizadas pela força dominante.

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