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Turbilhão de idéias - Aquila non captat muscas

25 outubro 2011

Quatro séculos de dominação: da Colônia à Revolução Cubana



É impossível entender um movimento revolucionário tão complexo como o que ocorreu na ilha cubana sem antes buscarmos compreender a conjuntura histórica que justifica a iniciativa destes homens, apaixonados pelo ideal revolucionário, que buscaram na guerrilha uma espécie de grito de socorro de uma sociedade que sofria constantes privações, miséria, pobreza e exploração.


Para melhor assimilar a formação desta identidade revolucionária, faz-se necessária uma retomada de um passado de dominações, que nos remonta desde a chegada dos espanhóis em 1492 até uma conseguinte dominação norte-americana na ilha.
Desde que se fixou como domínio espanhol, essa faixa de terra caribenha foi de extrema importância para a coroa madrilenha. Devido a sua posição estratégica, servia como base avançada na corrida por rotas comerciais, principalmente na Índia, apresentava uma geografia perfeita em termos militares, assumindo, por conta disso, uma posição de baluarte militar, econômico e comercial do império espanhol na América.


Cuba apresenta índices de desenvolvimento constantes na aquisição de escravos, atingindo seu apogeu no século XIX, mão-de-obra esta que inicialmente era empregada apenas como força de trabalho nas minas, mas que rapidamente começa a movimentar um tipo de produção econômica que faz com que a ilha caribenha seja uma “presa colonial” cobiçada por todo resto do mundo - a produção de açúcar.


Segundo Gerard Pierre-Charles, a produção de açúcar em Cuba passa de 1 milhão em 1789 a 30 milhões em 1850, justificando o aumento gradual de escravos que, em igual recorte temporal, passa de 3.271 (três mil, duzentos e setenta e um) anuais em 1800 para uma média de 17 (dezessete) mil vinte anos depois.


A repercussão da produção desta matéria-prima no mercado mundial foi tão significativa que, em 1818, a metrópole espanhola abre uma brecha no “pacto colonial” permitindo que sua colônia comercializasse as produções deste “ouro branco” com a emergente potência norte-americana e outras grandes nações marítimas, como o caso do Reino Unido. A partir deste acontecimento, a ilha torna-se o foco do mercado externo das principais potências da época, ficando cada vez mais complicado para o império espanhol manter uma dominação colonial direta na região. Segundo Florestan Fernandes: “isso força os interesses espanhóis a um permanente jogo contraditório pelo qual tentavam imprimir o máximo de flexibilidade na dominação colonial, ao mesmo tempo em que fortalecem suas garras aos níveis econômicos, políticos e militares a partir de dentro da sociedade da colônia”. Fica evidente que a Espanha vem perdendo aos poucos o elo econômico que mantinha sobre Cuba, fazendo-se prevalecer agora somente através do uso preeminente de seu poderio militar.


Uma justificativa plausível para a situação degradante vivenciada pelo povo cubano parte, justamente, deste processo, aonde podemos levar em consideração que a miséria é derivada de um atraso relativo advindo de uma sociedade colonial ao mesmo tempo em que percebemos um progresso desigual de uma burguesia emergente em detrimento ao resto de uma população que passa a maior parte do seu ano sem empregos. Sofrendo os efeitos do chamado “tiempo muerto”


Seguindo este contexto, houve duas tentativas de emancipação por parte da população de Cuba. Estas foram configuradas em duas guerras em busca da independência que perduraram em torno de trinta anos, fazendo com que o país fosse o último da América Latina a alcançar uma pseudo-independência em 1898.


Durante essa segunda tentativa de emancipação, o exército de escravos libertos, armados com facões e comandados pela burguesia cubana centrada na figura de “José Martí, advogado, escritor, jornalista e grande ideólogo do movimento revolucionário” , lutava em prol de uma Cuba livre e soberana. Quando estavam próximos de atingir seus anseios, derrotando o forte e bem armado exército colonizador, tiveram seus objetivos frustrados devido a uma intervenção norte-americana no conflito, que temerosos com a autonomia conseqüente da evidente independência do seu vizinho, decidem, através da justificativa de “pacificação” e lançando mão da doutrina Monroe, derrotar os espanhóis e estender as garras do imperialismo a Cuba.


Com a derrocada espanhola na guerra hispano-americana e a sua expulsão através do tratado de Paris, tem início o período de dominação norte-americana. Cuba passaria de colônia espanhola a uma espécie de neocolonia desta nação, aonde se entende esse termo como a “situação típica, transitória ou permanente, na qual a dominação indireta gradual limita o alcance e os ritmos da descolonização em proveito das nações hegemônicas” . Há, na verdade, uma relação de dependência por parte dos dominados com relação à potência que os domina, à medida que a existência do primeiro só é valida para suprir as necessidades existentes no segundo. No caso Cubano, a ilha não existe para si, mas sim, a fim de garantir o fornecimento de matéria prima em preços muito mais acessíveis à potência yankee, como é caso do açúcar, do tabaco e por que não da libertinagem, se levarmos em consideração que os americanos procuravam a ilha em busca de cassinos, drogas e prostituição, o que renderam a Cuba o apelido de “sin city” americana.


A queda dos preços do açúcar, devido advento da 1ª Grande Guerra Mundial, fez com que houvesse um enfraquecimento da elite fundiária, única camada social cubana que poderia angariar forças suficientes para liquidar o regime americano. Essa necessidade de resistência do povo ao neocolonialismo é o fator precursor de um forte e crescente sentimento de identificação nacional que, a partir da década de trinta, movimenta um fluxo revolucionário que atinge escalas irreversíveis, mostrando-se um ensaio do movimento revolucionário de Janeiro de cinqüenta e nove. Prova concreta disto está no ocorrido durante o governo fantoche de Geraldo Machado, aonde o ditador acaba sendo deposto em 1933 por um grande levante popular que aos poucos vai sendo assumido por militares. Mesmo sem ainda ter a progressão necessária para eliminar de uma vez por todas as correntes que ligam a ilha à sua potência hegemônica, esse levante adquiriu certa relevância, pois a partir dele, a burguesia assume postos de importância estratégica no que diz respeito à política - militar do movimento nacionalista.


Dentre os militares que tomam a dianteira da queda do presidente Machado, uma figura se apresenta como um grande destaque para o desfecho do golpe, o sargento Fulgêncio Batista - que não foi apenas aquele que encerrou esse quadro revolucionário, mas também foi aquele que realizou uma tomada de poder através de presidentes fantoches, estendendo a Cuba seis anos de um governo extremamente corrupto. Em 1940 Batista assume o poder de fato, eleito a frente da coalizão socialista democrata com o qual tinha efetuado uma aliança dois anos antes. Fulgêncio se mantém no poder até o ano de 1944.

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